terça-feira, 13 de setembro de 2016

NOSSA ALMA NÃO MORRE


O estudo do Universo leva-nos ao estudo da Alma, à busca do princípio vital que dirige nossos atos. A inteligência não pode vir da matéria. A fisiologia nos ensina que as diversas partes do corpo humano se renovam em um período de poucos anos; sob a ação de duas grandes correntes vitais ocorre em nós uma mudança constante de moléculas; aquelas que o organismo elimina são substituídas por outras provenientes da alimentação. Tudo em nosso ser físico, desde as substâncias moles do cérebro até as partes mais duras do esqueleto, submete-se a contínuas mudanças. Nosso corpo se dissolve e se reconstitui inúmeras vezes durante a vida, e apesar disso, não obstante todas as transformações do organismo, nós conservamos sempre a mesma personalidade.
A matéria de nosso cérebro pode se renovar, mas nosso pensamento é sempre idêntico a si mesmo e com ele subsiste a nossa memória, a lembrança de um passado ao qual o nosso corpo atual não esteve presente. Existe, pois, em nós um princípio diferente da matéria, uma força invisível que persiste e se mantém não obstante este perpétuo renovar-se.
Sabemos que a matéria não pode por si própria organizar-se e produzir vida, pois que, desprovida de unidade, ela se desagrega e se subdivide ao infinito. Em nós, ao contrário, todas as faculdades, todas as potências intelectuais e morais se agrupam em uma unidade central que as compreende, une-as e ilumina-as, e esta unidade é a consciência, a personalidade, o EU, a Alma.
A Alma é o princípio da vida, a causa das sensações, a força invisível, indissolúvel que rege o nosso organismo e mantém a concordância entre todas as partes de nosso ser. As faculdades da  Alma nada tem em comum com a matéria; a inteligência, a razão, o critério, a vontade, não podem se confundir com o sangue de nossas veias, ou com os tecidos de nossos músculos. O mesmo se diz da consciência, deste privilégio que nos permite medir nossos atos, discernir o bem do mal. Esta linguagem íntima que se dirige a todos, aos mais humildes tanto quanto aos mais elevados, esta voz cuja reprovação pode perturbar o brilho das glórias mais excelsas, nada tem de material.
Correntes contraditórias se agitam em nós; os apetites, os desejos imoderados lutam contra a razão e o sentimento do dever. Se fossemos apenas matéria, não conheceríamos estas lutas, estas batalhas, e nos deixaríamos vencer sem obstáculos e sem remorsos pelas nossas naturais tendências. Ao contrário, a vontade está em conflito frequente com o instinto; por ela podemos escapar às influências da matéria, dominá-la e fazer dela um dócil instrumento. Não vemos homens, nascidos em condições difíceis, superar todos os obstáculos, a miséria, a enfermidade, e atingir os mais altos postos com seus esforços enérgicos e perseverantes? Não vemos a superioridade da alma  sobre o corpo afirmar-se, de modo ainda mais luminoso, no espetáculo dos grandes sacrifícios e dos históricos holocaustos? Ninguém ignora os mártires do dever e da verdade revelada antes do tempo, como todos aqueles que pelo bem da Humanidade foram perseguidos, atormentados, mortos, puderam, em meio às torturas e diante da morte, dominar a matéria e, em nome de um grande ideal, impor silêncio às rebeliões da carne.
Se em nós apenas houvesse matéria, logo que o corpo imerge no sono não veríamos o espírito viver e agir sem o concurso dos sentidos, e nos mostrar como uma incessante atividade é a condição própria de sua natureza. A lucidez magnética, a visão à distância independente do órgão da vista, a  previsão dos acontecimentos, a leitura do pensamento, são outras tantas provas evidentes da existência da Alma.
Assim é que, fraco ou forte, ignorante ou iluminado, um Espírito vive em nós e rege este corpo que depende dele e é seu instrumento. Este Espírito é livre, perceptível, por isso responsável: Ele pode, querendo, melhorar transformando-se, e tender para o bem, amparado em sua estrada por um ideal, confuso em alguns, luminoso em outros. Quanto maior este ideal, mais as obras que inspira são úteis e gloriosas: Feliz Alma que em seu caminho é sustentada por um nobre entusiasmo, pelo Amor à Verdade, à Justiça, à Pátria, à Humanidade! Ela se elevará rapidamente, sua passagem deixará traço profundo em toda parte, um sulco do qual surgirá uma conquista abençoada.
* * *
Estabelecida a existência da alma, impõe-se logo a questão da sua imortalidade. É problema da maior importância, visto que a imortalidade é a única sanção da lei Moral, a única concepção que satisfaz à nossa ideia de Justiça e  corresponde às mais altas esperanças da Raça Humana.
Se nossa entidade espiritual se mantém através do perpétuo renovar-se das moléculas e persiste na transformação do nosso corpo material, a desagregação destas moléculas, o seu, desaparecimento final não poderão afetá-la em sua existência.
Já vimos que nada se destrói no Universo; pois bem, quanto a química e a física demonstram-nos que nenhum átomo se perde, que nenhuma força desaparece, como poderemos crer que a unidade na qual se resumem todas as potências intelectuais, o EU consciente no qual a vida se liberta dos vínculos da fatalidade, possa se dissolver e aniquilar-se? Não somente a lógica e a moral mas, os próprios fatos positivos psíquicos e fisiológicos concorrem para provar a persistência do ser consciente, a nos demonstrar que a Alma se encontra no além-túmulo do modo como se formou no curso da existência com suas ações e com o seu trabalho.
Se a morte fosse a derradeira palavra de tudo, se os nossos destinos se limitassem a esta vida fugidia, como se explicariam nossas aparições a um estado melhor, a um estado perfeito, do qual nada que existe pode nos dar ideia? Teríamos esta sede inextinguível de conhecer e de saber? Se tudo devesse terminar com a morte, por que estas necessidades, estes sonhos, estas tendências inexplicáveis? O grito poderoso do ser humano que vence os séculos, as esperanças infinitas, os impulsos irresistíveis para a Luz e o progresso seriam apenas atributos de uma sombra que passa, de um conjunto de moléculas que se desfazem logo que se formam? A que se reduz a vida terrena tão breve que mesmo em sua máxima duração não nos permite atingir os últimos limites da ciência; tão cheia  de misérias, de amarguras, de desilusões que nada nos satisfaz inteiramente, de modo que quando julgamos ter atingido o objeto de nossos desejos, nós, insaciáveis, sentimo-nos atraídos para uma meta sempre mais distante e inacessível?
A persistência com que perseguimos sempre, apesar de nossas desilusões, um ideal que não é deste mundo, um bem que nos foge sempre, nos revela a existência de alguma coisa além da vida atual. A Natureza não poderia dar ao ser aspirações e esperanças que não encontram realização, portanto as necessidades ilimitadas da Alma exigem indispensavelmente uma vida sem limites.


A “Varinha Mágica” de Luíza Cony

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