Quá-quá era
um sapinho, - em tudo o que ia fazer, era sempre o último a chegar. Um dia,
junto com os seus irmãos, foi até o brejo para ensaiar os primeiros saltos. A alegria
era grande.
Dizia a
mamãe-sapo: - Agora vocês verão como se dá um salto. Saltou e todos a
aplaudiram. - Já que aplaudiram é porque
aprenderam a lição. Vamos todos pular, mas um de cada vez. Cada um escolhia uma
direção e...zapt! Quando chegou a vez de quá-quá, todos ficaram a olhá-lo. E o
pobrezinho abaixou, abaixou, ensaiou, ensaiou, pulou e... plaft.! Deu com o
nariz numa árvore. Só se via sapinho de barriga para cima de tanto dar risada.
- Outra vez!
– Disse a mamãe-sapo. Quá-quá ensaiou novamente e... zapt e... plaft.!
Novamente estatelou-se contra uma árvore! Todos os sapinhos caíram na gargalhada.
A mamãe-sapo
repreendeu todo mundo e preocupada aproximou-se de quá-quá. Olhou bem nos seus
olhos e lamentou: - Quá-quá tem um defeito na vista! Sem perder tempo,
procuraram o velho coim-coim, um sapo experiente e que todos confiavam.
Depois de
examinar o sapinho, coim-coim concluiu que, pela primeira vez, estava diante de
um sapo que precisava de óculos. – Um sapo de óculos – resmungou, coçando a
cabeça. E não houve jeito. Quá-quá passou a usar óculos. Entretanto, por mais
que caprichasse no estilo da armação dos óculos, estes não paravam no lugar. Era
ensaiar um pulo e ... ploft...caiam os óculos ao chão! Quá-quá, dessa forma,
não podia mesmo saltar. E um sapo que não salta era logo ridicularizado pelos
próprio irmãos, contra a vontade da mamãe-sapo.
Os danadinhos,
mesmo sabendo das dificuldades de visão de quá-quá, não perdiam oportunidade de aborrece-lo de todas as
formas. O pobrezinho sentia-se muito, mas muito infeliz.
Um dia, os
sapinhos combinaram ir brincar na lagoa.
A mamãe-sapo, quando soube, foi logo dizendo – cuidado com o Nico!
Aquele menino prende em uma gaiola quantos sapinhos ele encontrar... e não
solta nunca mais! Tomaremos cuidado, mamãe. Ela, no entanto, não ficou
satisfeita e avisou: - Se ele aparecer... sumam o mais depressa possível! – Faremos isso, mamãe. E, foram,
com pressa para a lagoa.
Quá-quá, com
seus óculos mal-ajeitados, não quis perder a oportunidade de acompanha-los até
a lagoa. E, por não saltar igual aos outros, seguia o alegre grupo, muito e
muitos metros atrás. Vez por outra, ouvia os irmãozinhos: - Quá-quá, olha que o
Nico vai te pegar!
Na lagoa,
todos mergulhavam na água branquinha e brincavam de esconde-esconde nas
pequenas ilhas e nos arbustos que ali cresciam.
Quá-quá ficava à margem e ninguém se lembrava dele. Num
momento, porém, quá-quá ajeitou-se para um grande salto, mas seus óculos caíram;
mesmo assim, corajosamente se arremessou sem direção certa e... plaft.! Caiu
junto de seus irmãozinhos, que reclamaram com ele. Em seguida, quase sem fôlego
gritou: - Nico! Nico vem vindo!
Os irmãos,
apavorados, só então ouviram as pisadas do menino, já muito perto, que voava na
direção em que eles se encontravam. Foi um corre-corre para se esconder. Nico andou
de um lado para outro, com sua terrível gaiola. Todos os sapinhos estavam
tremendo e suando, escondidos e muito quietos, assim como a mamãe-sapo mandara.
Nico cansou
de procurar e, naquele dia, não pegou nenhum sapinho. Depois de muito tempo,
quando se afastou os sapinhos saíram de seus esconderijos e, mais aliviados, se
reuniram em torno de quá-quá.
Puxa! –
exclamou um dentre eles – se não fosse o quá-quá estaríamos perdidos! Voltaram
para casa e contaram tudo à mamãe-sapo, e, após ouvi-los, disse: - Vejam, meus
filhos! Ninguém deve ser desprezado por qualquer defeito que tenha! Se, de um
lado faltou a visão a quá-quá, por outro, passou a ter bons ouvidos. E é capaz
de ouvir melhor do que todos vocês juntos. Eles concordaram. – Ah! Se não fosse
quá-quá!
A partir
daquele dia, então, os sapinhos, quando iam a algum lugar, sempre convidavam
quá-quá para lhes fazer companha. Pulavam um pouco menos e, assim, todos iam
juntos. ... E quá-quá, de óculos,
vigiava por eles!
A “VARINHA
MÁGICA” DE LUÍZA CONY
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