Depois
de algum tempo sem receber notícias das três amigas Ceci, Fani e Graci, tive a
grata surpresa e felicidade de conhece-las pessoalmente. Vieram visitar a nossa
Casa de Caridade/Missão Luz divina, e terem a oportunidade de revelar os
últimos acontecimentos.
Ficamos
horas conversando mas senti cada uma delas, muito abatidas, tristes, embora
transformadas no modo de encarar as problemáticas da vida. Conseguiram
definir-se como Espíritas e tiveram experiências bastante significativas.
Ceci
foi a primeira a dar o depoimento:
-
Depois da última carta que a senhora me enviou, decidi tornar-me professora de
alunos portadores de necessidades
especiais, trabalhando com gangues e
crianças com problemas emocionais. Logo depois, deixei o Canadá e fui trabalhar
como voluntária em alguns orfanatos de Buenos Aires, e conheci Rick que passara
os primeiros anos de vida num orfanato que parecia uma prisão. Embora fosse
amoroso quando ia visita-lo, com o tempo seu comportamento piorou. Quebrava
brinquedos, atacava outras crianças e por fim, foi encaminhado a um hospital
psiquiátrico. Era um menino de 8 anos, muito irritado, e eu queria adotá-lo, estava
me esforçando ao máximo para tê-lo como filho e poder guia-lo na vida com mais
respeito por si mesmo e pelo próximo.
Não
sabia quão tumultuada seria minha vida depois de adotá-lo.
Fiquei
profundamente preocupada com o que Rick contou-me numa tarde de verão quando a
Assistente Social da Prefeitura de Buenos Aires, chamou-nos para uma
entrevista. Rick contou que nunca tivera um par de sapatos, jamais havia sido
educado, e nunca recebera requer um abraço. Ele não sabia se tinha pais.
Através de uma única janela, podia ver o mundo através do quarto do orfanato
compartilhado com dezenas de garotos. “ A noite, víamos as luzes da cidade,
lembrou ele.” “Eu ficava imaginando o que seria tudo aquilo.”
Passaram-se
seis meses, e Rick já podia ser considerado meu filho, finalmente consegui a adoção. Procurava
conversar bastante com ele, preparar sanduíches saborosos, mas Rick só
respondia gritando: “Não quero isso”, dizia irritado. Eu não respondia, pois
sabia que a hostilidade dele não tinha nada a ver comigo. Ainda assim, eu não
estava preparada para enfrentar a raiva de Rick, que pegou da gaveta uma faca e
encostou-a na minha garganta. Comecei a chorar, e ele disse: “ Desculpe, é que
não estava acostumado com essas coisas. Tudo parece um sonho. Sabe, quando vi
você se aproximar de mim e falar que queria ser minha mãe, foi ai que teve
início minha segunda vida.”
Depois,
ele deu um enorme sorriso.
Eu
decidi não ter filhos biológicos, pois há muitos por ai precisando de ajuda.
Era o que dizia sempre para minha mãe. Sonhei com isso, toda a vida, procurei estudar com carinho cada questão das crianças maltratadas em
orfanatos. Quando vi Rick vivendo num austero orfanato, onde os funcionários
alimentavam e limpavam as crianças, e, às vezes, batiam nelas com chicotes; fora
isso, deixavam que se virassem sozinhas. Senti meu coração gritar, saltar pela
boca: “ Tire-o daqui, ele é alguém precioso para sua vida encontrar o
verdadeiro sentido.” Com toda franqueza,
senti o amor do Cristo falando comigo , e passei a acreditar na Lei da
reencarnação, no reencontro com Rick, e olhei-o com um amor profundo.
Pouco a
pouco, Rick parecia se adaptar em sua nova casa. Fascinado pelo universo
desconhecido, adorou falar ao telefone, e comigo aprender a nadar. Mas já
apresentava sinais de problemas: Tinha
acesso de raiva e não conseguia dormir
sozinho. Sentia dificuldade de se comunicar quando entrou na escola.
No dia
em que completou 9 anos, porém, algo
mudou. Foi durante a festa de aniversário organizada por Fani e Graci –
a primeira de sua vida – que Rick percebeu claramente que alguém o trouxera ao
mundo e depois o abandonara. O pensamento tomou conta dele com fúria. Na
imaginação de Rick, eu o tinha abandonado durante oito anos e depois, trouxe-o
de volta e eu tentava agir como se nada tivesse acontecido. Eu expliquei
várias que não era sua mãe biológica,
mas Rick não se convencia. Não se importava com o que dissesse. A raiva tomou
conta dele. Ele irrompia em acessos que duravam horas, atirando qualquer coisa
que suas mãos alcançassem e cavando buracos nas paredes da casa inteira. Por
fim, tirei tudo do seu quarto, exceto o colchão. Mas as explosões pioraram.
Quando Rick completou 10 anos, dei-lhe um cãozinho, que ele imediatamente
tentou estrangular. No mês seguinte, levei-o ao Centro Espírita Meninos de
Jesus, em Buenos aires. Lá faziam preces para que as crianças da Evangelização
Infanto-Juvenil se acalmassem, e Rick agrediu as crianças com uma pá.
Depois
disso, recorri a terapeutas; Rick mordeu um na barriga, deixando um corte de
oito centímetros. Foi enviado por três vezes a hospital psiquiátrico , uma
delas, depois de ameaçar o diretor da escola com um caco de vidro. As
internações apenas aumentavam sua raiva. Antes, ele sentia uma frustração que
crescia progressivamente. Mas depois de
ter estado no hospital, tornou-se deliberadamente violento.
Eu era
o alvo preferido de Rick. Golpeou-me várias vezes, e depois sorria quando meu
olho ou minha cabeça sangravam. Talvez a única pessoa que rick odiava tanto
quanto eu era ele mesmo. Falava em suicídio com frequência e fez várias
tentativas de pular de janelas ou árvores.
Especialistas
em saúde mental, Fani e Graci diziam para mim que não havia esperança, que Rick
nunca me amaria e que eu deveria abrir mão dele. Mas recusava a desistir,
porque guardei em meu coração, um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo,
que diz sobre os órfãos: - “ Meus
irmãos, amai os órfãos, se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado,
sobretudo na infância! Deus permite que haja órfãos para nos exortar a lhes
servirmos mais. Que divina caridade ajudar uma pobre criança abandonada, impedi-la de sofrer fome e frio, dirigir sua
alma a fim de que não se perca no vício! Quem estende a mão à criança
abandonada é agradável a Deus, porque compreende e pratica sua Lei. Pensai
também que, frequentemente, a criança que socorreis vos foi cara numa outra
encarnação; e se pudésseis vos lembrar, não seria mais caridade, mas um dever.
Assim, pois, todo ser sofredor é vosso irmão e tem direito á vossa caridade.”
Em Buenos
Aires, eu fora treinada para lidar com alunos violentos, e quando Rick
apontou-me de novo, uma faca, não demonstrei emoção. Retirei a faca das mãos
dele com um golpe, e ele recuou. Foi o fim da crise. Só mais tarde eu me
permiti pensar no que poderia ter acontecido. Rick era um menino franzino de 10
anos, mas estava crescendo. Eu sabia que não poderíamos continuar a viver
daquela maneira. Até então, vários medicamentos psicotrópicos haviam sido
descritos para o garoto. Alguns foram inúteis, outros pareceram ajudar a
estabilizar suas violentas mudanças de humor. Nenhum deles, porém, pôde tratar
seu diagnóstico mais grave: transtorno de apego reativo, doença que impede o
paciente de criar vínculos com outras pessoas.
Uma
criança portadora desse transtorno acredita que é má, indesejada, desprezada e
impossível de ser amada. O resultado é uma profunda sensação de alienação que
gera raiva e violência. Em resumo: Rick era incapaz de amar. Embora raro, o transtorno costuma ser encontrado em
crianças que sofrem abusos sexuais.
Numa
tarde muito fria e com garoa, sai para caminhar na praça em frente ao Palácio
do Governo. Buenos aires parecia uma cidade do interior, calma, sem trânsito
nem pedestres circulando. Sente num banco e fiquei pensando no presente que o
Guia Espiritual Abel Monsenhor, pediu para a Senhora enviar-me – O Livro O
Evangelho Segundo o Espiritismo, que passei a ler sempre que ficava triste e
preocupada com o Rick, repentinamente decidi voltar para casa, ao entrar na
sala, vi Rick segurando o Livro aberto no Capítulo XII “Amai os Vossos
Inimigos”. Quando ele me viu, perguntou:
“ Mãe, o que quer dizer isso?”
Calmamente
fui me aproximando dele, peguei o livro e li um trecho do capítulo: “Amar os
inimigos não é, pois ter para com eles uma afeição que não está na Natureza,
porque o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do
de um amigo; é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de
vingança, é perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente o mal de que
nos fazem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação; é desejar o bem, em
lugar de desejar-lhes o mal, é
regozijar-se em lugar de se afligir pelo bem que os alcança; é lhes estender a
mão segura em caso de necessidade; é abster-se, em palavras, em ações, de tudo
o que possa prejudica-los; enfim, é lhes retribuir em tudo, o mal com o bem,
sem intenções de os humilhar. Quem quer que faça isso cumpre as condições do
mandamento: AMAI OS VOSOS INIMIGOS. Se o amor ao próximo é o princípio da
caridade, amar os inimigos é sua aplicação sublime, porque essa virtude é uma
das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.
Rick
chorou compulsivamente, assim que terminamos de ler o Evangelho, tomou água
fluidificada e depois pediu para ler a dedicatória do livro, e também quis
saber quem a escreveu. Quando eu estava dando início à leitura, ele pediu para
ler sozinho, e assim o fez com segurança e muita calma na voz.
“Agora
mamãe, quero abraça-la e agradecer todo o amor de Jesus que vale mais do que
qualquer coisa que eu possa ter.”
Depois
de 2 anos, fazendo diariamente, o Evangelho no Lar e orações, os surtos
violentos de Rick cessaram e parou de tentar se machucar. Passou a valorizar
tudo o que eu havia feito por ele e a perceber que o amava. Começou a se abrir,
parou de roubar e fez algumas amizades.
Com meu
incentivo, também começou a ajudar outras pessoas. Tornou-se líder do grupo de
Evangelização Infanto-Juvenil e começou a treinar como bombeiro voluntário.
Para espanto de todos os seus terapeutas e psiquiatras, foi premiado no Centro
Espírita Meninos de Jesus, como aluno destaque da escola de estudos
doutrinários. Recebeu o prémio com um discurso para 300 pessoas. Nele, Rick
falou do início de sua vida no orfanato e agradeceu-me toda a motivação e mudança. Em seguida, com a
voz embargada, leu as palavras da dedicatória “O Lar e o Evangelho” , e terminou dizendo: “Amo jesus, amo minha
mãe Ceci e amo todos vocês.”
“Foi
sem dúvida, o momento mais incrível de minha vida”, afirmou Ceci. E continuou…
E foi assim, que recebi do Cristo, a resposta para seguir na vida, dando amor para o Rick e recebendo também o
seu amor. Mais uma vez, ficou comprovado para mim, que o Evangelho Segundo o
Espiritismo traz em si, um enorme conjunto de motivações que nos levam a examinar a nossa vida de maneira mais
intensa, determinando mudanças internas e externas. Para mim, é fundamental orar e meditar para sentir o dia
produtivo e repleto de motivação, e
isso responde à minha própria pergunta: O
que esperamos de Deus?...
Depois
do relato de Ceci, todas nós abraçamos comovidamente, com a certeza de que
ainda voltaríamos a nos encontrar, visto que, Fani e Graci necessitavam por
demais, contar sobre os acontecimentos de suas vidas. Ficaram então, agendadas
para a semana seguinte, e Ceci acrescentou – “Ah! Eu também quero voltar e vou
trazer o Rick para a senhora conhecer. Já estamos morando em São Paulo, e somos
vizinhos da Fani e da Graci. Agora não vamos mais nos separar.”
O LAR E O EVANGELHO
O lar
está vazio
Mas uma
luz nele penetra
E tudo
se transforma.
O lar
ganha alegria,
É a
Benção de Jesus invadindo,
A
esperança trazendo.
Lar!
Uma casa de amor,
Cujos
habitantes querem o sabor
Da doce
palavra de Jesus.
Lar! Um
convívio de amor,
Cujos
habitantes querem o sabor
Da doce
palavra de Jesus.
Lar! Um
convívio de amor
Para
quem sente o calor
Do
Evangelho de Jesus.
Reunião
feliz e alegre
Só se
consegue,
Quem se
ergue
Para o
Mestre dos Mestres,
Como
flores silvestres
Em cada
canto terrestre.
Lar!
Paredes e teto abrigando Jesus
Sentindo
a Voz dos Anjos de Luz
Ditando
as instruções sublimes
Para
que as criaturas tenham virtudes
E sigam
os passos tão puros
Do
Mestre dos Mestres.
Quem
Dele aprende a vida,
Sabe
bem falar sobre sua vida.
Quem
ama Jesus e segue-O,
Inflama-se
de coragem e ergue-O
Quem se
ilumina Dele,
Quer
que outrem Dele se ilumine,
Porque
Ele mesmo disse:
“Vós
sois luzes no mundo!”
Mensagem
ditada pelo Espírito de Rosa Perpétua
Psicografada
pela Médium Luíza Cony
Nenhum comentário:
Postar um comentário