quinta-feira, 9 de abril de 2015

O QUE ESPERAMOS DE DEUS? CAPITULO III - MOTIVAÇÃO - O TEMA DO MOMENTO SEGUNDA PARTE



Depois de algum tempo sem receber notícias das três amigas Ceci, Fani e Graci, tive a grata surpresa e felicidade de conhece-las pessoalmente. Vieram visitar a nossa Casa de Caridade/Missão Luz divina, e terem a oportunidade de revelar os últimos acontecimentos.
Ficamos horas conversando mas senti cada uma delas, muito abatidas, tristes, embora transformadas no modo de encarar as problemáticas da vida. Conseguiram definir-se como Espíritas e tiveram experiências bastante significativas.

Ceci foi a primeira a dar o depoimento:

- Depois da última carta que a senhora me enviou, decidi tornar-me professora de alunos  portadores de necessidades especiais,  trabalhando com gangues e crianças com problemas emocionais. Logo depois, deixei o Canadá e fui trabalhar como voluntária em alguns orfanatos de Buenos Aires, e conheci Rick que passara os primeiros anos de vida num orfanato que parecia uma prisão. Embora fosse amoroso quando ia visita-lo, com o tempo seu comportamento piorou. Quebrava brinquedos, atacava outras crianças e por fim, foi encaminhado a um hospital psiquiátrico. Era um menino de 8 anos, muito irritado, e eu queria adotá-lo, estava me esforçando ao máximo para tê-lo como filho e poder guia-lo na vida com mais respeito por si mesmo e pelo próximo.
Não sabia quão tumultuada seria minha vida depois de adotá-lo.
Fiquei profundamente preocupada com o que Rick contou-me numa tarde de verão quando a Assistente Social da Prefeitura de Buenos Aires, chamou-nos para uma entrevista. Rick contou que nunca tivera um par de sapatos, jamais havia sido educado, e nunca recebera requer um abraço. Ele não sabia se tinha pais. Através de uma única janela, podia ver o mundo através do quarto do orfanato compartilhado com dezenas de garotos. “ A noite, víamos as luzes da cidade, lembrou ele.” “Eu ficava imaginando o que seria tudo aquilo.”
Passaram-se seis meses, e Rick já podia ser considerado meu  filho, finalmente consegui a adoção. Procurava conversar bastante com ele, preparar sanduíches saborosos, mas Rick só respondia gritando: “Não quero isso”, dizia irritado. Eu não respondia, pois sabia que a hostilidade dele não tinha nada a ver comigo. Ainda assim, eu não estava preparada para enfrentar a raiva de Rick, que pegou da gaveta uma faca e encostou-a na minha garganta. Comecei a chorar, e ele disse: “ Desculpe, é que não estava acostumado com essas coisas. Tudo parece um sonho. Sabe, quando vi você se aproximar de mim e falar que queria ser minha mãe, foi ai que teve início minha segunda vida.”
Depois, ele deu um enorme sorriso.

Eu decidi não ter filhos biológicos, pois há muitos por ai precisando de ajuda. Era o que dizia sempre para minha mãe. Sonhei com isso, toda a vida,  procurei estudar com carinho  cada questão das crianças maltratadas em orfanatos. Quando vi Rick vivendo num austero orfanato, onde os funcionários alimentavam e limpavam as crianças, e, às vezes, batiam nelas com chicotes; fora isso, deixavam que se virassem sozinhas. Senti meu coração gritar, saltar pela boca: “ Tire-o daqui, ele é alguém precioso para sua vida encontrar o verdadeiro sentido.”  Com toda franqueza, senti o amor do Cristo falando comigo , e passei a acreditar na Lei da reencarnação, no reencontro com Rick, e olhei-o com um amor profundo.

Pouco a pouco, Rick parecia se adaptar em sua nova casa. Fascinado pelo universo desconhecido, adorou falar ao telefone, e comigo aprender a nadar. Mas já apresentava sinais de problemas:  Tinha acesso de raiva e não  conseguia dormir sozinho. Sentia dificuldade de se comunicar quando entrou na escola.

No dia em que completou 9 anos, porém, algo  mudou. Foi durante a festa de aniversário organizada por Fani e Graci – a primeira de sua vida – que Rick percebeu claramente que alguém o trouxera ao mundo e depois o abandonara. O pensamento tomou conta dele com fúria. Na imaginação de Rick, eu o tinha abandonado durante oito anos e depois, trouxe-o de volta e eu tentava agir como se nada tivesse acontecido. Eu expliquei várias  que não era sua mãe biológica, mas Rick não se convencia. Não se importava com o que dissesse. A raiva tomou conta dele. Ele irrompia em acessos que duravam horas, atirando qualquer coisa que suas mãos alcançassem e cavando buracos nas paredes da casa inteira. Por fim, tirei tudo do seu quarto, exceto o colchão. Mas as explosões pioraram. Quando Rick completou 10 anos, dei-lhe um cãozinho, que ele imediatamente tentou estrangular. No mês seguinte, levei-o ao Centro Espírita Meninos de Jesus, em Buenos aires. Lá faziam preces para que as crianças da Evangelização Infanto-Juvenil se acalmassem, e Rick agrediu as crianças com uma pá.
Depois disso, recorri a terapeutas; Rick mordeu um na barriga, deixando um corte de oito centímetros. Foi enviado por três vezes a hospital psiquiátrico , uma delas, depois de ameaçar o diretor da escola com um caco de vidro. As internações apenas aumentavam sua raiva. Antes, ele sentia uma frustração que crescia progressivamente.  Mas depois de ter estado no hospital, tornou-se deliberadamente violento.

Eu era o alvo preferido de Rick. Golpeou-me várias vezes, e depois sorria quando meu olho ou minha cabeça sangravam. Talvez a única pessoa que rick odiava tanto quanto eu era ele mesmo. Falava em suicídio com frequência e fez várias tentativas de pular de janelas ou árvores.
Especialistas em saúde mental, Fani e Graci diziam para mim que não havia esperança, que Rick nunca me amaria e que eu deveria abrir mão dele. Mas recusava a desistir, porque guardei em meu coração, um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo, que diz sobre os órfãos:  - “ Meus irmãos, amai os órfãos, se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado, sobretudo na infância! Deus permite que haja órfãos para nos exortar a lhes servirmos mais. Que divina caridade ajudar uma pobre criança abandonada,  impedi-la de sofrer fome e frio, dirigir sua alma a fim de que não se perca no vício! Quem estende a mão à criança abandonada é agradável a Deus, porque compreende e pratica sua Lei. Pensai também que, frequentemente, a criança que socorreis vos foi cara numa outra encarnação; e se pudésseis vos lembrar, não seria mais caridade, mas um dever. Assim, pois, todo ser sofredor é vosso irmão e tem direito á vossa caridade.”
Em Buenos Aires, eu fora treinada para lidar com alunos violentos, e quando Rick apontou-me de novo, uma faca, não demonstrei emoção. Retirei a faca das mãos dele com um golpe, e ele recuou. Foi o fim da crise. Só mais tarde eu me permiti pensar no que poderia ter acontecido. Rick era um menino franzino de 10 anos, mas estava crescendo. Eu sabia que não poderíamos continuar a viver daquela maneira. Até então, vários medicamentos psicotrópicos haviam sido descritos para o garoto. Alguns foram inúteis, outros pareceram ajudar a estabilizar suas violentas mudanças de humor. Nenhum deles, porém, pôde tratar seu diagnóstico mais grave: transtorno de apego reativo, doença que impede o paciente de criar vínculos com outras pessoas.

Uma criança portadora desse transtorno acredita que é má, indesejada, desprezada e impossível de ser amada. O resultado é uma profunda sensação de alienação que gera raiva e violência. Em resumo: Rick era incapaz de amar. Embora  raro, o transtorno costuma ser encontrado em crianças que sofrem abusos sexuais.

Numa tarde muito fria e com garoa, sai para caminhar na praça em frente ao Palácio do Governo. Buenos aires parecia uma cidade do interior, calma, sem trânsito nem pedestres circulando. Sente num banco e fiquei pensando no presente que o Guia Espiritual Abel Monsenhor, pediu para a Senhora enviar-me – O Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, que passei a ler sempre que ficava triste e preocupada com o Rick, repentinamente decidi voltar para casa, ao entrar na sala, vi Rick segurando o Livro aberto no Capítulo XII “Amai os Vossos Inimigos”.  Quando ele me viu, perguntou: “ Mãe, o que quer  dizer isso?”
Calmamente fui me aproximando dele, peguei o livro e li um trecho do capítulo: “Amar os inimigos não é, pois ter para com eles uma afeição que não está na Natureza, porque o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do de um amigo; é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança, é perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente o mal de que nos fazem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação; é desejar o bem, em lugar de  desejar-lhes o mal, é regozijar-se em lugar de se afligir pelo bem que os alcança; é lhes estender a mão segura em caso de necessidade; é abster-se, em palavras, em ações, de tudo o que possa prejudica-los; enfim, é lhes retribuir em tudo, o mal com o bem, sem intenções de os humilhar. Quem quer que faça isso cumpre as condições do mandamento: AMAI OS VOSOS INIMIGOS. Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar os inimigos é sua aplicação sublime, porque essa virtude é uma das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.

Rick chorou compulsivamente, assim que terminamos de ler o Evangelho, tomou água fluidificada e depois pediu para ler a dedicatória do livro, e também quis saber quem a escreveu. Quando eu estava dando início à leitura, ele pediu para ler sozinho, e assim o fez com segurança e muita calma na voz.
“Agora mamãe, quero abraça-la e agradecer todo o amor de Jesus que vale mais do que qualquer coisa que eu possa ter.”

Depois de 2 anos, fazendo diariamente, o Evangelho no Lar e orações, os surtos violentos de Rick cessaram e parou de tentar se machucar. Passou a valorizar tudo o que eu havia feito por ele e a perceber que o amava. Começou a se abrir, parou de roubar e fez algumas amizades.
Com meu incentivo, também começou a ajudar outras pessoas. Tornou-se líder do grupo de Evangelização Infanto-Juvenil e começou a treinar como bombeiro voluntário. Para espanto de todos os seus terapeutas e psiquiatras, foi premiado no Centro Espírita Meninos de Jesus, como aluno destaque da escola de estudos doutrinários. Recebeu o prémio com um discurso para 300 pessoas. Nele, Rick falou do início de sua vida no orfanato e agradeceu-me toda a motivação e mudança. Em seguida, com a voz embargada, leu as palavras da dedicatória “O Lar e o Evangelho” , e terminou dizendo: “Amo jesus, amo minha mãe Ceci e amo todos vocês.”

“Foi sem dúvida, o momento mais incrível de minha vida”, afirmou Ceci. E continuou… E foi assim, que recebi do Cristo, a resposta para seguir na vida,  dando amor para o Rick e recebendo também o seu amor. Mais uma vez, ficou comprovado para mim, que o Evangelho Segundo o Espiritismo traz em si, um enorme conjunto de motivações que nos levam a examinar a nossa vida de maneira mais intensa, determinando mudanças internas e externas. Para mim,  é fundamental orar e meditar para sentir o dia produtivo e repleto de motivação, e isso responde à minha própria pergunta: O que esperamos de Deus?...



Depois do relato de Ceci, todas nós abraçamos comovidamente, com a certeza de que ainda voltaríamos a nos encontrar, visto que, Fani e Graci necessitavam por demais, contar sobre os acontecimentos de suas vidas. Ficaram então, agendadas para a semana seguinte, e Ceci acrescentou – “Ah! Eu também quero voltar e vou trazer o Rick para a senhora conhecer. Já estamos morando em São Paulo, e somos vizinhos da Fani e da Graci. Agora não vamos mais nos separar.”





O LAR E O EVANGELHO

O lar está vazio
Mas uma luz nele penetra
E tudo se transforma.
O lar ganha alegria,
É a Benção de Jesus invadindo,
A esperança  trazendo.

Lar! Uma casa de amor,
Cujos habitantes querem o sabor
Da doce palavra de Jesus.

Lar! Um convívio de amor,
Cujos habitantes querem o sabor
Da doce palavra de Jesus.

Lar! Um convívio de amor
Para quem sente o calor
Do Evangelho de Jesus.

Reunião feliz e alegre
Só se consegue,
Quem se ergue
Para o Mestre dos Mestres,
Como flores silvestres
Em cada canto terrestre.

Lar! Paredes e teto abrigando Jesus
Sentindo a Voz dos Anjos de Luz
Ditando as instruções sublimes
Para que as criaturas tenham virtudes
E sigam os passos tão puros
Do Mestre dos Mestres.

Quem Dele aprende a vida,
Sabe bem falar sobre sua vida.
Quem ama Jesus e segue-O,
Inflama-se de coragem e ergue-O

Quem se ilumina Dele,
Quer que outrem Dele se ilumine,
Porque Ele mesmo disse:
“Vós sois luzes no mundo!”

Mensagem ditada pelo Espírito de Rosa Perpétua

Psicografada pela Médium Luíza Cony

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