A primavera chegara trazendo alegria para os
jardins que rodeavam os aposentos da Érica. O canto dos pássaros naquela manhã
estava próximo da sua janela. Ela olhava para o lado de fora e vê que as
árvores floresciam. A grama estava bem verde. Flores se espalhavam por todos os canteiros. Borboletas
pousavam em cada uma delas e depois faziam seus voos de liberdade. A natureza
se mostrava feliz. O sol sorria e seus raios enfeitavam aquela paisagem
primaveril.
Pela primeira vez, depois de cinco anos de
internação, aquela paciente tão especial para Claudio dava seus primeiros sinais rumo à cura
psíquica. Seus olhos irradiavam um brilho contagiante e não se cansavam de avaliar aquela beleza da Criação Divina.
Depois de ter passado todo esse tempo deitada numa cama hospitalar ou sentada
numa cadeira de rodas, mesmo estranhando seu corpo, sentiu-se voltando de uma
longa viagem pelo deserto árido. Não conseguia decifrar se estava ansiosa ou
atenta aos sinais de que os sentimentos transpuseram o limite patológico e são
tão intrusos que esmagam outro pensamento, sabotando continuamente as tentativas
de dar atenção à tarefa que tem de cumprir. Ainda clinicamente deprimida, os
pensamentos de autopiedade e desespero, desesperança e desamparo se sobrepõem a
qualquer outro.
Quando as emoções dominam a concentração, o que
está sendo soterrado de fato é a memória funcional, isto é, a capacidade de ter
em mente toda a informação relevante para a execução de uma determinada
tarefa. O que ocupa a memória funcional
pode ser banal como os algarismos de um número de telefone, ou complicado como
as intrincadas linhas da trama que o romancista tenta juntar. E isso
possibilita todos os outros esforços intelectuais, desde pronunciar uma frase
até enfrentar uma complicada proposição de lógica. Do córtex pré-frontal
executa a memória funcional e, é ali onde os sentimentos e emoções se
encontram.
E na medida em que a Érica é motivada por
sentimentos de entusiasmo e prazer no que vê e no que faz – ou mesmo por um
grau ideal de ansiedade, - esses sentimentos levam-na ao êxito. É nesse sentido
que a inteligência emocional é um aptidão mestra, uma capacidade que afeta
profundamente todas as outras, facilitando ou interferindo nelas.
O Dr. Fontoura e toda sua equipe se reuniu na porta
estupefatos. Após passar o impacto inicial, Érica diz: Não sei como contar o
que está se passando comigo, mas acho que Deus abençoou minha vida e de todos
vocês. Á medida que todos teciam comentários a seu respeito, Érica perguntou
sobre o Claudio. Imediatamente a Dra. Elza foi buscá-lo. Ele estava lendo na
biblioteca sobre terapia ocupacional, pois pretendia preparar um grupo de
pacientes jovens para expor suas pinturas a óleo sobre tela, e um outro
grupo para dar aula de artesanato, na
comunidade carente assistida por ele e por alguns membros da equipe do Dr.
Fontoura , inclusive contando com o apoio de Dona Isaura, esposa do Dr.
Fontoura.
Assim que Claudio soube da boa notícia, foi
imediatamente até o quarto da Érica. Entrou bem devagar e foi aproximando-se
dela com um imenso sorriso. Todos deram-se as mãos, e a Dra. Elza mediunizada pronunciou
esta orientação espiritual: - O convite do mestre Jesus é sempre válido e
oportuno para que busquemos sempre a suavidade e leveza de sua mensagem para
penetrar nosso coração, ensinando-nos a amar até mesmo a dificuldade e a dor
que nos fazem crescer espiritualmente.
Irmã Érica, crê que o amor é a energia capaz de
fortalecer-te para a superação da doença psíquica e espiritual. O amor ainda te
fará feliz. Quanto mais se integrar no grupo que aqui te auxilia, mais poderás
aspirar novas forças e assimilar, com mais segurança, a mensagem renovadora do
Evangelho Consolador. Mantém a oração em grupo ou individual, a cada noite e a
cada manhã. Coloca um copo d´água para fluidificar, tomando-o ao longo doa dia.
Toma passes continuamente como vens recebendo. Prepara-te assim, afim de que
energias novas te fortaleçam, possibilitando o amparo do Alto, que está
incessantemente ao teu lado. Não duvides disso.
Érica emociona-se, até chegar às lágrimas. Bom
sinal para a sua recuperação. A afetividade, já está voltando ao normal. Resta,
ainda, ouvir seu coração quanto ao amor por Claudio. Todos saem do recinto, em
silêncio. Mas Claudio fica para a leitura do Evangelho, porém Érica pede para
ler um trecho e testemunhar seu entendimento. Ambos tomam a água fluidificada,
encerrando aquele momento de fé, ternura e agradecimento.
Ao final da tarde, Érica pede ao Claudio para
leva-la para passear no jardim para ver o pôr do sol. Ele aproveita para
declarar seu imenso amor e beija as mãos delicadas e ainda, um pouco trêmulas de sua amada. Ela fica feliz e
aceita carinhosamente, o gesto afetivo do claudio e pergunta:
- “ Quanto tempo eu estive fora do ar?”
- “ Muito tempo”, meu amor. Era tudo o que Claudio
conseguia dizer por enquanto.
O rosto de
Érica, magro, mas ainda bonito, passou da serenidade para a surpresa. Claudio
tranquiliza-a com um abraço caloroso. Ela insiste:
- Quanto tempo fiquei fora do ar?
- Ele segurando as lágrimas, responde:
- Bastante tempo. Cinco anos.
Ao ouvir isso, e percebendo que estava com 31 anos
de idade, Érica começou a chorar.
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