Atende Senhor a minha prece – para que o meu pequeno querer
humano seja inteiramente sintonizado com o Teu Grande Querer Divino!
Com 22 anos de idade, fui convidada para trabalhar como taquigrafa
parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo, e ao mesmo tempo preparar algumas
secretárias dos Deputados Estaduais. Confesso que não foi nada agradável, pois
não conseguia visualizar aquele ambiente como saudável profissionalmente. Então,
concentrei todos os meus esforços para reunir o grupo de secretárias e alguns
deputados, para transmitir o que vinha aprendendo sobre os meus ideais de vida.
E logo após, pedi demissão. O que expus naquela palestra, foi mais ou menos
isto que hoje, beirado os 72 anos, deixo registrado com a minha “Varinha Mágica”.
A psicologia sociológica do passado recomendava a posse como
forma de segurança. A felicidade era medida em razão dos haveres acumulados, e
a tranquilidade de apresentava como sendo a falta de preocupação em relação ao
presente como ao futuro.
Aguardar uma velhice descansada, sem problemas financeiros,
impunha-se como a grande meta a conquistar.
A Escala de Valores mantinha como patamar mais elevado a fortuna
endinheirada, como se a vida se restringisse a negócios, à compra e venda de
coisas, de favores, de posições. Mesmo as religiões, preconizando a renúncia ao
mundo e aos bens terrenos, reverenciavam os poderosos, os ricos, enquanto se
adornavam de requintes, e seus templos se transformavam em verdadeiros bazares,
palácios e museus frios, nos quais a solidariedade e o amor passavam
desconhecidos.
A felicidade se apresentava possível, desde que se pudesse compra-la.
Todos os programas traziam como impositivo prioritário o prestígio social
decorrente da posse financeira ou do poder político.
Inventou-se o conceito irônico de que o dinheiro não dá
felicidade, porém ajuda a consegui-la. Ninguém o contesta; no entanto, ele não
é tudo.
O imediatismo substituiu os valores legítimos da vida, e
houve uma natural subestima pelos códigos éticos e morais, as conquistas
intelectuais, as virtudes, por parecerem de somenos importância. Não se
cogitava muito, então, averiguar se as pessoas poderosas e possuidoras de
coisas eram realmente felizes, ou se apenas fingiam sê-lo.
Não se indagava a respeito das reais ambições dos seres e o
quanto dariam para despojar-se de tudo, a fim de serem outrem ou fazerem o que
lhes apreciasse e não o que se lhes impunham. Embora, os avanços da psicologia
profunda, na atualidade, ainda permanecem alguns bolsões de imposição para que
o homem tenha, sem a preocupação com o que ele seja.
O prolongamento da idade infantil, em mecanismos escapistas
da personalidade, faz que a existência permaneça como um jogo, e os bons, como
as pessoas, tornem-se brinquedos nas mãos de seus possuidores.
Os homens, entretanto, não são marionetes de fácil
manipulação. Cada indivíduo tem as suas próprias aspirações e metas, não
podendo ser movido pelo prazer insano ou com bons propósitos que sejam por
outras pessoas.
Essas heranças infantis não absorvidas pela idade adulta,
impedindo o amadurecimento psicológico encarregado do discernimento são,
igualmente, responsáveis pela insegurança que leva o indivíduo a amontoar
coisas e cuidar do ego, em detrimento da sua identidade integral. Sem que se dê
conta, desumaniza-se e passa à categoria de semideus, desvelando os caprichos
infantis, irresponsáveis, que se impõem, satisfazendo as frustrações.
O amadurecimento psicológico equipa o homem de resistências
contra os fatores negativos da existência, as ciladas do relacionamento social,
as dificuldades do cotidiano.
A vida são todas as ocorrências, agradáveis ou não, que
trabalham pelo progresso, em cuja correnteza todos navegam na busca do porto da realização. Importante
desse modo é manter-se o equilíbrio entre o Ser e exteriorizar o que se É, sem
conflito comportamental, eliminando os estados de tensão resultantes da
insatisfação ou do comodismo, assim, realizando-se, interior e exteriormente.
Nesta luta entre o Ego artificial, arquetípico, e o Eu Real,
eterno e evolutivo, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência, devendo
ser incorporados à conduta que os automatiza, não mais gerando áreas
psicológicas resistentes auto realização, e liberando-as para um estado de
plenitude relativa, naturalmente, em razão da transitoriedade da existência
física.
Eis ai a importância do amadurecimento psicológico do
indivíduo, que lhe proporciona os meios de gerir os recursos, sem lhes submeter
aos impositivos. Quando se tem a sabedoria de administrar os valores de
qualquer natureza, a benefício da vida e da coletividade, não apenas se possui,
sobretudo se se é livre, nunca possuído pelas enganosas engrenagens dos metais
preciosos, dos títulos de negociações, dos documentos de consagração e
propriedade, todos afinal, perecíveis, que mudam de mão, que são fáceis de
perder-se, destruir-se, queimar-se.
Vamos refletir a frase inicial, para marcar bem, os valores
reais da vida humana: “A retidão de caráter e a segurança derivam do que se É,
jamais do que se tem.”
Luíza Cony