O espírito humano flutua agitado por todos os ventos da dúvida e da contradição. Às vezes acha que tudo vai bem e pede novas energias vitais: outras, amaldiçoa a existência e clama o aniquilamento.
Pode a Justiça Eterna conformar os seus planos com as vistas efêmeras e variáveis?
Na própria pergunta está a resposta. A Justiça é Eterna porque é imutável. No caso que nos ocupa, é a harmonia perfeita que se estabelece entre a liberdade dos nossos atos e a fatalidade das suas consequências.
O esquecimento temporário das nossas faltas não evita o seu efeito. É necessária a ignorância do passado para que toda a atividade do homem se consagre ao presente e ao futuro, para que se submeta à Lei do esforço e se conforme com as condições do meio em que renasce.
É durante o sono, que a alma exerce a sua atividade, pensa, vagueia. Às vezes, remonta ao mundo das causas e torna a encontrar a noção das vidas passadas. Do mesmo modo que a estrelas brilham somente durante a noite, também o nosso presente deve acolher-se à sombra para que os clarões do passado se acendam no horizonte da consciência.
A vida no corpo humano é o sono da alma; é o sonho triste ou alegre. Enquanto ele dura, esquecemos os sonhos precedentes, isto é, as encarnações passadas; entretanto, é sempre a mesma personalidade que persiste nas suas duas formas de existência. Em sua evolução atravessa alternadamente período de contração e dilatação, de sombra e luz.
A personalidade retrai-se ou se expande nesses dois estados sucessivos, assim como se perde e torna a encontrar através das alternativas do sono e da vigília, até que a alma, chegada ao apogeu intelectual e moral, acabe de uma vez de sonhar.
Há em cada um de nós um livro misterioso onde tudo se inscreve em caracteres indeléveis. Fechado à nossa visão durante a vida terrena abre-se no Espaço. O espírito adiantado percorre lhe à vontade as páginas, encontra nele ensinamentos, impressões e sensações que o homem material a custo compreende. Esse livro, é o que chamamos o PERISPIRITO. Quanto mais se purifica, tanto mais as recordações se definem: nossas vidas, uma a uma, emergem da sombra e desfilam em nossa frente para nos acusarem ou glorificarem. Tudo, os fatos, os atos, pensamentos mínimos, reaparece e impõem-se à nossa atenção. Então o Espírito contempla a tremenda realidade; mede o seu grau de elevação; sua consciência julga sem apelação nem gravidade, como são suaves para a alma, nessa hora as boas ações praticadas, as obras de sacrifício!
Como, porém, são pesados os desfalecimentos, as obras de egoísmo e perversidade.
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A vida atual é, como se sabe, um simples episódio de nossa longa história, um fragmento da grande cadeia que se desenrola para todos através da imensidade.
E constantemente recaem sobre nós, em brumas ou claridades, os resultados de nossas obras. A alma percorre seu caminho cercada de uma atmosfera brilhante ou turva, povoada pelas criações de seu pensamento.
É isto, na vida do além, sua glória ou sua vergonha.
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A educação das almas humanas obriga-as a ocupar situações diversas. Todas têm de passar alternadamente pela prova da riqueza e pela da pobreza, do infortúnio, da doença, da dor.
A todas as misérias deste mundo que não o atingem o egoísta fica alheio e diz: “Depois de mim, o dilúvio!”
A”SENTINELA DA EVOLUÇÃO HUMANA” – POR LUÍZA CONY