segunda-feira, 17 de julho de 2017

O CAMINHO DO RENUNCIADOR PARTE II


As tradições judaica e budista dispõem de ensinamentos particularmente equilibrados sobre o tema da riqueza.
No Budismo profundamente iluminado do Vimalakirti, um bilionário profundamente iluminado, discípulo de Buda, que tem um sutra inteiro escrito sobre ele e que recebeu o seu nome. E, no  Judaísmo, há entre outros exemplos, a figura do virtuoso Jó, o “homem mais rico de todo o Oriente”. Perto do fim do poema, Jó lembra a Deus, a grande compaixão que tinha em função de sua grande riqueza.
Se tivesse desprezado os direitos de meu escravo ou fechado os ouvidos a sua súplicas – o que faria eu se Deus aparecesse? O que responderia, se me interrogasse? Por acaso não foi Deus que nos fez e nos formou a ambos no ventre?
Se alguma vez negligenciei os pobres ou fiz sofrerem os inocentes; se comi sozinho minhas refeições e não agasalhei aos nus nem cuidei do mendigo maltrapilho (...) ou jurei fidelidade ao ouro; se alguma vez gabei-me de minhas riquezas ou colhi os louros de minha fortuna (...)
                                                           ***
A atitude judaica é bem sintetizada pelo rabino espanhol do século XI, Bakya Pakuda: - Se aquele que confia em  Deus é rico, com satisfação ele cumprirá todas as obrigações religiosas e éticas que cabem a um homem rico; se é pobre, considerará a falta de dinheiro uma bênção de Deus, que o alivia das responsabilidades que sua posse envolve, e do trabalho de o guardar e gerir. O rico que confia em Deus não considerará a sua riqueza um obstáculo à sua fé; pois não põe sua confiança em sua riqueza, à qual é para ele um encargo que lhe foi atribuído por um período limitado, a fim de que o aplique em benefício de si próprio, de sua família e de sua comunidade.
Ele não colhe louros por sua generosidade, nem tampouco dá esmolas ou realiza boas ações a não ser no anonimato; nem exige qualquer recompensa ou louvor; mas, em seu coração, agradece ao Criador que o fez agente de Sua bondade. E se perde sua riqueza, não se aflige ou lamenta por sua perda, mas é grato a Deus por ter levado embora aquilo que apenas lhe havia sido confiado, da mesma forma com que antes era grato a Deus por sua dádiva original, e se compraz com a porção que lhe cabe.
A verdade é que, quando vemos o dinheiro com clareza,  podemos reconhece-lo como algo que não é nem bom nem mau, mas, sim, que é pura energia, e entender que ele pode ser utilizado, tal como a eletricidade, tanto para o bem quanto para o mal. “A pessoa indigna”, diz um mestre oriental, - em harmonia central, “desenvolve a sua riqueza à custa do seu caráter; a pessoa madura desenvolve o seu caráter através da sua riqueza”. Quando estamos mergulhados no amor de Deus, até o dinheiro é um serviço divino, tal como diz a –  extasiante, ultrajante e magnificamente inocente – oração de um mestre da índia:
- Possa eu me tornar famoso,
Possa eu me tornar mais rico
Do que os ricos
Para que possa servi-lo melhor,
Doce Senhor!
Possa eu entrar em Ti,
Possas tu entrar em mim!
Possa eu misturar-me às
Suas  milhares formas,
Para minha purificação.
Como as águas correm em queda,
Como os meses compõem os anos,
Possam discípulos  virem a mim
De todos os lugares,
Para que eu possa melhor
Servi-lo Senhor!
Para finalizar, mais uma história e um poema em prosa.
Um espírita havia entrado na idade adulta com um forte e enraizado preconceito contra o dinheiro. Recusava-se a ter qualquer  espécie de relação com o dinheiro, a não ser o mínimo estritamente, necessário, e vivia com seis mil reais por ano. Foi então que conheceu uma mulher de rara sensibilidade, que mais tarde viria a se tornar sua esposa. Pouco tempo depois que se conheceram, ela começou a chamar sua atenção para o fato de que a aversão era uma forma de apego tão forte quanto o desejo, e que, ao rejeitar o dinheiro ele estava reprimindo a sua própria energia, tanto física quanto espiritual.
Esta situação perdurou por alguns anos.
O espírita que é esperto o bastante para ouvir a voz da verdade, finalmente compreendeu e passou então a dedicar-se ao doloroso – e, para ele, necessário trabalho interno de rastrear a raiz de sua aversão. Passaram-se os anos; tudo foi ficando claro; nada mudou. E então, de repente, sete anos mais tarde seu trabalho começou a germinar e o dinheiro começou a jorrar aos borbotões, um sinal externo e perceptível, de uma abundância interna e espiritual.
O espírita já havia entrado no reino de Deus vários anos antes, e só muito mais tarde tornou-se rico. Tomado pela exultação deste espírita, inverti a metáfora de Jesus na seguinte passagem:
Pelo buraco da agulha o camelo recupera o fôlego, limpa o suor da resta. Foi um aperto danado, mas ele conseguiu. Recosta sobre a grama inacreditavelmente viçosa, ele recorda: Todos aqueles anos (que martírio eles foram!) de jejum e concentração obsessiva, até que finalmente ficasse suficientemente magro: traumaturgicamente magro; filiformemente magro, quase irreconhecível em sua camelice; até o momento diante do buraco abismal. Quando uniu suas patas dianteiras. Tomou o último e longuíssimo fôlego. Mirou. Mergulhou.
A exceção pode provar a regra, mas o que prova a exceção?
“Não que coisas assim sejam possíveis”, pensa o camelo, com um sorriso. “Mas coisas assim são possíveis para mim”.
                                                           ***
A “VARINHA MÁGICA” DE LUÍZA CONY




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