As tradições
judaica e budista dispõem de ensinamentos particularmente equilibrados sobre o
tema da riqueza.
No Budismo
profundamente iluminado do Vimalakirti, um bilionário profundamente iluminado,
discípulo de Buda, que tem um sutra inteiro escrito sobre ele e que recebeu o
seu nome. E, no Judaísmo, há entre
outros exemplos, a figura do virtuoso Jó, o “homem mais rico de todo o Oriente”.
Perto do fim do poema, Jó lembra a Deus, a grande compaixão que tinha em função
de sua grande riqueza.
Se tivesse
desprezado os direitos de meu escravo ou fechado os ouvidos a sua súplicas – o que
faria eu se Deus aparecesse? O que responderia, se me interrogasse? Por acaso
não foi Deus que nos fez e nos formou a ambos no ventre?
Se alguma
vez negligenciei os pobres ou fiz sofrerem os inocentes; se comi sozinho minhas
refeições e não agasalhei aos nus nem cuidei do mendigo maltrapilho (...) ou
jurei fidelidade ao ouro; se alguma vez gabei-me de minhas riquezas ou colhi os
louros de minha fortuna (...)
***
A atitude
judaica é bem sintetizada pelo rabino espanhol do século XI, Bakya Pakuda: - Se
aquele que confia em Deus é rico, com
satisfação ele cumprirá todas as obrigações religiosas e éticas que cabem a um
homem rico; se é pobre, considerará a falta de dinheiro uma bênção de Deus, que
o alivia das responsabilidades que sua posse envolve, e do trabalho de o
guardar e gerir. O rico que confia em Deus não considerará a sua riqueza um
obstáculo à sua fé; pois não põe sua confiança em sua riqueza, à qual é para
ele um encargo que lhe foi atribuído por um período limitado, a fim de que o
aplique em benefício de si próprio, de sua família e de sua comunidade.
Ele não
colhe louros por sua generosidade, nem tampouco dá esmolas ou realiza boas
ações a não ser no anonimato; nem exige qualquer recompensa ou louvor; mas, em
seu coração, agradece ao Criador que o fez agente de Sua bondade. E se perde
sua riqueza, não se aflige ou lamenta por sua perda, mas é grato a Deus por ter
levado embora aquilo que apenas lhe havia sido confiado, da mesma forma com que
antes era grato a Deus por sua dádiva original, e se compraz com a porção que
lhe cabe.
A verdade é
que, quando vemos o dinheiro com clareza, podemos reconhece-lo como algo que não é nem
bom nem mau, mas, sim, que é pura energia, e entender que ele pode ser
utilizado, tal como a eletricidade, tanto para o bem quanto para o mal. “A
pessoa indigna”, diz um mestre oriental, - em harmonia central, “desenvolve a
sua riqueza à custa do seu caráter; a pessoa madura desenvolve o seu caráter
através da sua riqueza”. Quando estamos mergulhados no amor de Deus, até o
dinheiro é um serviço divino, tal como diz a – extasiante, ultrajante e magnificamente
inocente – oração de um mestre da índia:
- Possa eu
me tornar famoso,
Possa eu me
tornar mais rico
Do que os
ricos
Para que
possa servi-lo melhor,
Doce Senhor!
Possa eu
entrar em Ti,
Possas tu
entrar em mim!
Possa eu
misturar-me às
Suas milhares formas,
Para minha
purificação.
Como as
águas correm em queda,
Como os
meses compõem os anos,
Possam discípulos
virem a mim
De todos os
lugares,
Para que eu
possa melhor
Servi-lo
Senhor!
Para finalizar,
mais uma história e um poema em prosa.
Um espírita
havia entrado na idade adulta com um forte e enraizado preconceito contra o
dinheiro. Recusava-se a ter qualquer espécie de relação com o dinheiro, a não ser o
mínimo estritamente, necessário, e vivia com seis mil reais por ano. Foi então
que conheceu uma mulher de rara sensibilidade, que mais tarde viria a se tornar
sua esposa. Pouco tempo depois que se conheceram, ela começou a chamar sua
atenção para o fato de que a aversão era uma forma de apego tão forte quanto o
desejo, e que, ao rejeitar o dinheiro ele estava reprimindo a sua própria
energia, tanto física quanto espiritual.
Esta situação
perdurou por alguns anos.
O espírita
que é esperto o bastante para ouvir a voz da verdade, finalmente compreendeu e
passou então a dedicar-se ao doloroso – e, para ele, necessário trabalho
interno de rastrear a raiz de sua aversão. Passaram-se os anos; tudo foi
ficando claro; nada mudou. E então, de repente, sete anos mais tarde seu
trabalho começou a germinar e o dinheiro começou a jorrar aos borbotões, um
sinal externo e perceptível, de uma abundância interna e espiritual.
O espírita
já havia entrado no reino de Deus vários anos antes, e só muito mais tarde
tornou-se rico. Tomado pela exultação deste espírita, inverti a metáfora de
Jesus na seguinte passagem:
Pelo buraco
da agulha o camelo recupera o fôlego, limpa o suor da resta. Foi um aperto
danado, mas ele conseguiu. Recosta sobre a grama inacreditavelmente viçosa, ele
recorda: Todos aqueles anos (que martírio eles foram!) de jejum e concentração
obsessiva, até que finalmente ficasse suficientemente magro: traumaturgicamente
magro; filiformemente magro, quase irreconhecível em sua camelice; até o momento
diante do buraco abismal. Quando uniu suas patas dianteiras. Tomou o último e
longuíssimo fôlego. Mirou. Mergulhou.
A exceção pode
provar a regra, mas o que prova a exceção?
“Não que
coisas assim sejam possíveis”, pensa o camelo, com um sorriso. “Mas coisas
assim são possíveis para mim”.
***
A “VARINHA
MÁGICA” DE LUÍZA CONY
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