Inácio 40 anos, sem fortuna e preguiçoso para trabalhar
mas com uma certa astúcia, sempre quis ocupar uma posição de destaque.
Aceitando-se inteligente e influente abusou do poder que lhe fora conferido na
empresa do amigo Ademar. Viciado no
orgulho, na vaidade e na cobiça, arrastou Ademar e outros amigos para uma casa
noturna, local preferido para fazer uso da maconha e da cocaína. Muito duro se excedeu nas perseguições daqueles que
tinham a coragem de censurar seus atos. E por isso Ademar o demitiu por justa
causa. Sem fé, Inácio torturou-se, e a luxúria o perseguia devorando seu
coração. Certo dia, Ademar encontrou-o
drogado e falando compulsivamente sobre o ódio que tinha do amigo. Seu comportamento
era exagerado na violência. E aos gritos ofendeu Ademar e a todos que lhe
dirigissem o olhar ou quisessem oferecer ajuda. Nunca se arrependia de nada.
O tempo foi passando, e Inácio não tinha sequer força
para andar e para comer. Continuava recusando qualquer tipo de auxílio, e sua
família o expulsou de casa; pois ele batia nos filhos pequenos, na esposa e nos
cunhados que sempre foram bons,
aconselhando-o a buscar ajuda psiquiátrica.
Quando Ademar quis leva-lo ao Centro Espírita que
frequentavam na infância, Inácio nem sequer teve força para falar a palavra
Deus. Seu cérebro parecia mergulhado na
brutalidade e todos os piores vícios eram como feridas sangrando e gritando
sofrimentos terríveis.
Sem fé, não tinha medo de nada ou o nada era a sua fé. Ademar afastou-se dele, bem como toda a
família. Vivia jogado em qualquer canto escuro e fétido, roubando comida dos
moradores de rua e participando de estupros em prostitutas de rua quando se
recusavam a repartir com ele, cocaína ou craque. Nesse estado lastimável Inácio parecia cada
vez mais perto da morte. Até que numa noite de chuva forte e muito vento,
viu-se sendo arrastado pela enxurrada ao ponto de cair num córrego. E num estalo, sua inteligência abre um espaço e
acende uma luz para o emocional. Consegue nadar e alcançar um tronco de
árvore, agarra-se firmemente, e diz para
si mesmo: “ Não posso morrer. Não chegou a minha hora. Quero viver!” Inicia-se uma ferrenha luta na regulação da
emoção. Parecia bastante competente para proteger-se contra os sentimentos
negativos. Por um instante, lembrou-se que as agitações e as ansiedades eram
suas estratégias. Era tão ruim para consigo mesmo que se declarava hipertenso
fervilhando perturbações fisiológicas e
depressivo.
Em termos de atividade do cérebro suas realidades eram
angustiantes. Sua consciência disparava torpedos de ódio. Sua depressão estava
no estágio avançado se nutrindo de ruminações e preocupações com o ego. Ele precisava ser socorrido antes de morrer,
antes que seu espirito continuasse a expiação nos domínios do umbral,
perseguido pelos maus espíritos. E pensava: - “Todos os elementos se obstinam
contra mim’. Mas muitos horrores seu espírito registrou, como por exemplo as aspirações dos devoradores de
fluidos por causa dos vícios das drogas e de ações maldosas.
Inácio, envolvido naquele desespero todo, continuou
negando Deus, seu espírito blasfemante e
exalando sofrimentos exclama: ‘”O Mestre é surdo aos meus gritos. Justiça? “
Nessa hora de profundo medo da morte, lembra-se das palavras de Ademar sobre o
Centro Espírita e o que aprendera com a evangelização Infantil, e exclama: - “
Dentro de mim, aos sobressaltos a verdade religiosa surge. Agora vou sair da
melancolia espiritual; estou me voltando para um poder transcendente. Bons
Espíritos orem por mim. Eu sei, eu sinto que a prece, quando se muito
religioso, funciona para todos os
estados de espírito, sobretudo a depressão.”
E continuava ali preso ao tronco da árvore, a correnteza
ainda era assustadora, parecia que as poucos forças que ainda lhe restavam,
logo acabariam. Mas seus pensamentos soletrava este pedido de salvação: - “Deus é infinito em sua Misericórdia; tudo
pode ter um fim, quando Ele quer. E eu posso querer ter fé Nele. Tenho certeza
de que Deus me vê no caminho do
arrependimento. Eu tinha instrução espiritual e a luz para me guiar. Com o
socorro de uma prece a brandura virá até mim porque verei o fim de todos os
sofrimentos, e a esperança me
sustentará. Ainda praticarei o bem no lugar do mal que fiz. “
Inesperadamente, a oração plantou boas sementes no
coração de Inácio. Invadiu num rápido
instante e formulou uma quantidade de bens que sugeriram autoavaliações mais profundas sobre si mesmo. Abriram-se as
portas da fé com a chave poderosa e abençoada do Espiritismo Consolador, tão
sublime e sábio com suas instruções iluminadas.
Embora estivesse beirando já a margem do córrego e a água
cobrindo-o por inteiro, Inácio sentiu a
força renovadora de um silêncio tão benéfico
tocar-lhe e disse: - “Que graça hoje recebi. A fé veio visitar meu
coração… uma fé serena e segura com o
poder de fazer-me enxergar os segredos escondidos em minha alma. A fé já está
instalada em mim. Creio e confesso, que a partir de hoje, tudo muda na minha
consciência e na compreensão da vida da matéria e do espírito. Pedi e obtive o
que mais precisava: O entendimento da Lei do Amor para o meu espírito
libertar-se do mal, do ódio e das obsessões.”
ORAÇÃO
DA FÉ
Senhor, reconheci a Vossa Justiça , confiei na Vossa
Bondade, e em silêncio admiti rogar para Vós a reparação. Orei com fé, não
sabia que tinha tanta força nos sentimentos. Quando o Senhor estiver satisfeito
comigo, ver-me bem fortalecido no Amor e na Benevolência, creio Senhor que
alcançarei entrever as divinas
claridades que me conduzirão ao porto da salvação, e me receberá em Vosso seio,
como filho pródigo. Humildemente rogo perdão. Tenho total confiança nos Vossos
Emissários Divinos, que me ajudarão a cumprir a obra que o Senhor a mim
designou, da qual desviei-me seduzido
pelos Espíritos Obsessores que atraí para o meu caminho. Agradeço
Senhor, do fundo do meu coração, por permitir aos Bons Espíritos derramarem
sobre mim os seus fluidos benfazejos, e por atender a minha prece, sem Vós, eu
nada posso. Que a Vossa Santa Vontade seja feita para todo sempre. Obrigado! Ainda não sou perfeito, mas farei
todo o bem que me for possível, para recolher a felicidade. Assim se realize!
* * *
Assim
que Inácio terminou esta bela oração de Fé, chegaram os bombeiros e
salvaram-nos do perigo. Imediatamente foi conduzido ao pronto socorro mais
próximo, e depois de ser examinado e tratado, pode tomar banho e vestir roupas
secas doadas por um enfermeiro, comeu também fartamente. Como havia perdido os
documentos e o pouco dinheiro, foi levado até a sala da contabilidade do
hospital onde um médico de plantão deu-lhe uma pequena quantia para condução e
refeição, pedindo que voltasse no dia seguinte para uma entrevista com o chefe
de recursos humanos a fim de garantir, trabalho, moradia, plano de saúde. Ficou
tão surpreso com toda a benevolência
Como
podemos observar, em todo pensamento, em toda obra há ação e reação e esta é
sempre proporcional em intensidade à ação realizada. Por isso pode-se dizer: O
ser colhe exatamente o que semeou.
Enquanto
Inácio usava de violência contra si mesmo, anulando-se no amor pela vida; vê-se
num impulso rápido que está adquirindo o sentimento de sua impotência moral.
Num acesso de perseverança da inteligência sobre o emocional ocorre a sua
conversão mais fácil e destrói de vez os sofrimentos do homem viciado, passando
a lembrar-se de sua criação nos moldes da Doutrina Espírita. Os lamentos do
Espírito, suas preocupações com o futuro, faziam com que gritasse por socorro,
e aguardava temeroso; pois sabia que as trevas são, para os Espíritos:
ignorância, o vazio e o horror do desconhecido… eu não posso caminhar nesse
compasso…
A
respeito dessa obscuridade, temos a
seguinte explicação: - “ O períspirito (corpo espiritual) possui, por
sua natureza, uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o império da
atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades são
para o fluido perispiritual o que a fricção é para o fósforo. O brilho da luz
está em razão da pureza do espírito; as menores imperfeições morais a obscurecem
e a enfraquecem. A luz que irradia de um espírito é, assim, tanto mais viva
quanto este seja avançado. O espírito sendo, de alguma sorte, o seu farol, vê
mais ou menos segundo a intensidade da luz que produz; de onde resulta que
aqueles que nada produzem estão na obscuridade.”
Inácio,
como podemos observar, nas trevas psíquicas, e portanto, adormecia nos limbos
da inconsciência. Uma verdadeira noite nebulosa da alma, comparável à
obscuridade da qual está marcada a inteligência do idiota. Não é uma loucura da
alma, mas uma inconsciência dela mesma e do que a cerca. Ele duvidou do destino
do seu ser, acreditou no nada. Ignorante de si mesmo e de seu destino. No
entanto, esse seu estado não seria permanente, devido a Lei do Progresso, todos
tem direito de evoluir, - cedo ou tarde; na atual reencarnação ou numa futura.
Quando Inácio redescobre Deus dentro de si, percebe que Deus, foco de
inteligência e de amor, é tão indispensável à vida interior, quanto o sol à
vida física! É Dele que emana essa força, ás vezes energia, pensamento, luz,
que anima e vivifica todos os seres. Quando se pretende que a ideia de
Deus é inútil, indiferente, tanto
valeria dizer que o sol é inútil, indiferente à natureza e à vida.
No momento que Inácio percebeu pela comunhão de pensamento,
pela elevação da alma a Deus, produziu-se uma penetração contínua, uma
fecundação moral do ser, uma expressão gradual das potências nele encerradas, porque essas potências,
pensamento e sentimento, não podem revelar-se e crescer senão por altas
aspirações, pelos transportes do nosso coração. Fora disso, todas essas forças
latentes dormitam em nosso íntimo, conservam-se inertes, adormecidas.
Inácio tornou-se um homem trabalhador, caridoso, um
espírita convicto de suas tarefas na seara do bem e do amor ao próximo. Voltou
para o lar e foi acolhido com alegria e amor por sua esposa, filhos e cunhados.
Todos festejaram o seu retorno e as
mudanças conquistadas. Diariamente reuniam-se para o Culto do Evangelho no Lar,
a pedido de Inácio, a fim de fortalecerem-se e avaliarem os resultados do
trabalho realizado om os moradores de rua, na ONG de Dona Isaura, uma
assistente social que trabalhava no hospital onde Inácio foi tratado e depois
registrado como auxiliar administrativo. Fez amizade com Dona Izaura, deu
muitas ideias para o tratamento dos drogados, ganharam um galpão, e ali
recolhiam os moradores de rua para fazer as refeições e receberem ajuda
psicológica com palestras, terapia ocupacional. Ao Inácio e família, coube a
parte doutrinária com a leitura do Evangelho, passes e orações. Todos
reconfortados, agradecidos e bem orientados.
Depois que Inácio descobriu sua fé em Deus, passou
a orar muito. A oração diária e em silêncio era sua companheira inseparáveis. A
nossa explicação a respeito da palavra oração é que ela é a forma, a expressão
mais potente da comunhão universal. A oração não é o que tantas pessoas supõem:
uma recitação frívola, um exercício
monótono e muitas vezes repetido. Não!
Toda prece sendo verdadeira na direção do Alto, mesmo a prece
improvisada, faz com que a nossa alma se transporte às regiões superiores; aí
encontra apoio, aí as forças do Amor Supremo transformam-se em luzes para a
alma aquecer seu eterno elo com o Divino. Aqueles que desconhecem Deus, não
podem conhecer, nem compreender esse apoio, essa potência.
Quando oramos, nós voltamos para o Ser eterno,
expomos nossos pensamentos e nossas ações, para que seja submetidos à sua Lei, e fazer da sua vontade
a regra de nossa vida, é através da oração que encontramos a paz do coração, a
satisfação da consciência. A oração é indiscutivelmente o maior bem interior, o
mais imperecível de todos os bens.
Quem despreza a oração desconhece o que há de maior que é a comunhão com a ALMA DO UNIVERSO, com esse foco de onde irradiam para sempre a inteligência e o amor; despreza também as potências interiores que fazem a nossa verdadeira riqueza. Por isso digo e repito: “FELIZES OS QUE SABEM ORAR!” Pelo poder da oração fazemos nossa elevação, nossa glória, nossa ventura.
Quem despreza a oração desconhece o que há de maior que é a comunhão com a ALMA DO UNIVERSO, com esse foco de onde irradiam para sempre a inteligência e o amor; despreza também as potências interiores que fazem a nossa verdadeira riqueza. Por isso digo e repito: “FELIZES OS QUE SABEM ORAR!” Pelo poder da oração fazemos nossa elevação, nossa glória, nossa ventura.