sábado, 28 de março de 2015

CAPÍTULO II – O SILÊNCIO E A ORAÇÃO TERCEIRA PARTE A INTELIGÊNCIA ACENDE UMA LUZ PARA O EMOCIONAL



Inácio 40 anos, sem fortuna e preguiçoso para trabalhar mas com uma certa astúcia, sempre quis ocupar uma posição de destaque. Aceitando-se inteligente e influente abusou do poder que lhe fora conferido na empresa do amigo Ademar.  Viciado no orgulho, na vaidade e na cobiça, arrastou Ademar e outros amigos para uma casa noturna, local preferido para fazer uso da maconha e da cocaína. Muito  duro se excedeu nas perseguições daqueles que tinham a coragem de censurar seus atos. E por isso Ademar o demitiu por justa causa. Sem fé, Inácio torturou-se, e a luxúria o perseguia devorando seu coração. Certo  dia, Ademar encontrou-o drogado e falando compulsivamente sobre o ódio que tinha do amigo. Seu comportamento era exagerado na violência. E aos gritos ofendeu Ademar e a todos que lhe dirigissem o olhar ou quisessem oferecer ajuda. Nunca se arrependia de nada.
O tempo foi passando, e Inácio não tinha sequer força para andar e para comer. Continuava recusando qualquer tipo de auxílio, e sua família o expulsou de casa; pois ele batia nos filhos pequenos, na esposa e nos cunhados   que sempre foram bons, aconselhando-o a buscar ajuda psiquiátrica.
Quando Ademar quis leva-lo ao Centro Espírita que frequentavam na infância, Inácio nem sequer teve força para falar a palavra Deus.  Seu cérebro parecia mergulhado na brutalidade e todos os piores vícios eram como feridas sangrando e gritando sofrimentos terríveis.
Sem fé, não tinha medo de nada  ou o nada era a sua  fé. Ademar afastou-se dele, bem como toda a família. Vivia jogado em qualquer canto escuro e fétido, roubando comida dos moradores de rua e participando de estupros em prostitutas de rua quando se recusavam a repartir com ele, cocaína ou craque.  Nesse estado lastimável Inácio parecia cada vez mais perto da morte. Até que numa noite de chuva forte e muito vento, viu-se sendo arrastado pela enxurrada ao ponto de cair num córrego.  E num estalo, sua  inteligência abre um espaço e acende uma luz para o emocional.  Consegue nadar e alcançar um tronco de árvore,  agarra-se firmemente, e diz para si mesmo: “ Não posso morrer. Não chegou a minha hora. Quero viver!”  Inicia-se uma ferrenha luta na regulação da emoção. Parecia bastante competente para proteger-se contra os sentimentos negativos. Por um instante, lembrou-se que as agitações e as ansiedades eram suas estratégias. Era tão ruim para consigo mesmo que se declarava hipertenso fervilhando  perturbações fisiológicas e depressivo.
Em termos de atividade do cérebro suas realidades eram angustiantes. Sua consciência disparava torpedos de ódio. Sua depressão estava no estágio avançado se nutrindo de ruminações e preocupações com o ego.  Ele precisava ser socorrido antes de morrer, antes que seu espirito continuasse a expiação nos domínios do umbral, perseguido pelos maus espíritos. E pensava: - “Todos os elementos se obstinam contra mim’. Mas muitos horrores seu espírito registrou, como por  exemplo as aspirações dos devoradores de fluidos por causa dos vícios das drogas e de ações maldosas.
Inácio, envolvido naquele desespero todo, continuou negando Deus, seu espírito blasfemante  e exalando sofrimentos exclama: ‘”O Mestre é surdo aos meus gritos. Justiça? “ Nessa hora de profundo medo da morte, lembra-se das palavras de Ademar sobre o Centro Espírita e o que aprendera com a evangelização Infantil, e exclama: - “ Dentro de mim, aos sobressaltos a verdade religiosa surge. Agora vou sair da melancolia espiritual; estou me voltando para um poder transcendente. Bons Espíritos orem por mim. Eu sei, eu sinto que a prece, quando se muito religioso,  funciona para todos os estados de espírito, sobretudo a depressão.”
E continuava ali preso ao tronco da árvore, a correnteza ainda era assustadora, parecia que as poucos forças que ainda lhe restavam, logo acabariam. Mas seus pensamentos soletrava este pedido de salvação: -  “Deus é infinito em sua Misericórdia; tudo pode ter um fim, quando Ele quer. E eu posso querer ter fé Nele. Tenho certeza de que Deus me vê  no caminho do arrependimento. Eu tinha instrução espiritual e a luz para me guiar. Com o socorro de uma prece a brandura virá até mim porque verei o fim de todos os sofrimentos,  e a esperança me sustentará. Ainda praticarei o bem no lugar do mal que fiz. “
Inesperadamente, a oração plantou boas sementes no coração de Inácio. Invadiu num rápido  instante e formulou uma quantidade de bens que sugeriram  autoavaliações  mais profundas sobre si mesmo. Abriram-se as portas da fé com a chave poderosa e abençoada do Espiritismo Consolador, tão sublime e sábio com suas instruções iluminadas.
Embora estivesse beirando já a margem do córrego e a água cobrindo-o por inteiro,  Inácio sentiu a força renovadora de um silêncio tão benéfico  tocar-lhe e disse: - “Que graça hoje recebi. A fé veio visitar meu coração…  uma fé serena e segura com o poder de fazer-me enxergar os segredos escondidos em minha alma. A fé já está instalada em mim. Creio e confesso, que a partir de hoje, tudo muda na minha consciência e na compreensão da vida da matéria e do espírito. Pedi e obtive o que mais precisava: O entendimento da Lei do Amor para o meu espírito libertar-se do mal, do ódio e das obsessões.”
ORAÇÃO DA FÉ

Senhor, reconheci a Vossa Justiça , confiei na Vossa Bondade, e em silêncio admiti rogar para Vós a reparação. Orei com fé, não sabia que tinha tanta força nos sentimentos. Quando o Senhor estiver satisfeito comigo, ver-me bem fortalecido no Amor e na Benevolência, creio Senhor que alcançarei  entrever as divinas claridades que me conduzirão ao porto da salvação, e me receberá em Vosso seio, como filho pródigo. Humildemente rogo perdão. Tenho total confiança nos Vossos Emissários Divinos, que me ajudarão a cumprir a obra que o Senhor a mim designou, da qual  desviei-me seduzido pelos Espíritos  Obsessores  que atraí para o meu caminho. Agradeço Senhor, do fundo do meu coração, por permitir aos Bons Espíritos derramarem sobre mim os seus fluidos benfazejos, e por atender a minha prece, sem Vós, eu nada posso. Que a Vossa Santa Vontade seja feita para todo sempre.  Obrigado! Ainda não sou perfeito, mas farei todo o bem que me for possível, para recolher a felicidade. Assim se realize!
* * *
Assim que Inácio terminou esta bela oração de Fé, chegaram os bombeiros e salvaram-nos do perigo. Imediatamente foi conduzido ao pronto socorro mais próximo, e depois de ser examinado e tratado, pode tomar banho e vestir roupas secas doadas por um enfermeiro, comeu também fartamente. Como havia perdido os documentos e o pouco dinheiro, foi levado até a sala da contabilidade do hospital onde um médico de plantão deu-lhe uma pequena quantia para condução e refeição, pedindo que voltasse no dia seguinte para uma entrevista com o chefe de recursos humanos a fim de garantir, trabalho, moradia, plano de saúde. Ficou tão surpreso com toda a benevolência
Como podemos observar, em todo pensamento, em toda obra há ação e reação e esta é sempre proporcional em intensidade à ação realizada. Por isso pode-se dizer: O ser colhe exatamente o que semeou.
Enquanto Inácio usava de violência contra si mesmo, anulando-se no amor pela vida; vê-se num impulso rápido que está adquirindo o sentimento de sua impotência moral. Num acesso de perseverança da inteligência sobre o emocional ocorre a sua conversão mais fácil e destrói de vez os sofrimentos do homem viciado, passando a lembrar-se de sua criação nos moldes da Doutrina Espírita. Os lamentos do Espírito, suas preocupações com o futuro, faziam com que gritasse por socorro, e aguardava temeroso; pois sabia que as trevas são, para os Espíritos: ignorância, o vazio e o horror do desconhecido… eu não posso caminhar nesse compasso…
A respeito dessa obscuridade, temos a  seguinte explicação: - “ O períspirito (corpo espiritual) possui, por sua natureza, uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o império da atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades são para o fluido perispiritual o que a fricção é para o fósforo. O brilho da luz está em razão da pureza do espírito; as menores imperfeições morais a obscurecem e a enfraquecem. A luz que irradia de um espírito é, assim, tanto mais viva quanto este seja avançado. O espírito sendo, de alguma sorte, o seu farol, vê mais ou menos segundo a intensidade da luz que produz; de onde resulta que aqueles que nada produzem estão na obscuridade.”
Inácio, como podemos observar, nas trevas psíquicas, e portanto, adormecia nos limbos da inconsciência. Uma verdadeira noite nebulosa da alma, comparável à obscuridade da qual está marcada a inteligência do idiota. Não é uma loucura da alma, mas uma inconsciência dela mesma e do que a cerca. Ele duvidou do destino do seu ser, acreditou no nada. Ignorante de si mesmo e de seu destino. No entanto, esse seu estado não seria permanente, devido a Lei do Progresso, todos tem direito de evoluir, - cedo ou tarde; na atual reencarnação ou numa futura. Quando Inácio redescobre Deus dentro de si, percebe que Deus, foco de inteligência e de amor, é tão indispensável à vida interior, quanto o sol à vida física! É Dele que emana essa força, ás vezes energia, pensamento, luz, que anima e vivifica todos os seres. Quando se pretende que a ideia de Deus  é inútil, indiferente, tanto valeria dizer que o sol é inútil, indiferente à natureza e à vida.
No momento que Inácio percebeu pela comunhão de pensamento, pela elevação da alma a Deus, produziu-se uma penetração contínua, uma fecundação moral do ser, uma expressão gradual das potências  nele encerradas, porque essas potências, pensamento e sentimento, não podem revelar-se e crescer senão por altas aspirações, pelos transportes do nosso coração. Fora disso, todas essas forças latentes dormitam em nosso íntimo, conservam-se inertes, adormecidas.
Inácio tornou-se um homem trabalhador, caridoso, um espírita convicto de suas tarefas na seara do bem e do amor ao próximo. Voltou para o lar e foi acolhido com alegria e amor por sua esposa, filhos e cunhados. Todos  festejaram o seu retorno e as mudanças conquistadas. Diariamente reuniam-se para o Culto do Evangelho no Lar, a pedido de Inácio, a fim de fortalecerem-se e avaliarem os resultados do trabalho realizado om os moradores de rua, na ONG de Dona Isaura, uma assistente social que trabalhava no hospital onde Inácio foi tratado e depois registrado como auxiliar administrativo. Fez amizade com Dona Izaura, deu muitas ideias para o tratamento dos drogados, ganharam um galpão, e ali recolhiam os moradores de rua para fazer as refeições e receberem ajuda psicológica com palestras, terapia ocupacional. Ao Inácio e família, coube a parte doutrinária com a leitura do Evangelho, passes e orações. Todos reconfortados, agradecidos e bem orientados.
Depois que Inácio descobriu sua fé em Deus, passou a orar muito. A oração diária e em silêncio era sua companheira inseparáveis. A nossa explicação a respeito da palavra oração é que ela é a forma, a expressão mais potente da comunhão universal. A oração não é o que tantas pessoas supõem: uma recitação frívola, um  exercício monótono e muitas vezes repetido. Não!  Toda prece sendo verdadeira na direção do Alto, mesmo a prece improvisada, faz com que a nossa alma se transporte às regiões superiores; aí encontra apoio, aí as forças do Amor Supremo transformam-se em luzes para a alma aquecer seu eterno elo com o Divino. Aqueles que desconhecem Deus, não podem conhecer, nem compreender esse apoio, essa potência.
Quando oramos, nós voltamos para o Ser eterno, expomos nossos pensamentos e nossas ações, para que seja  submetidos à sua Lei, e fazer da sua vontade a regra de nossa vida, é através da oração que encontramos a paz do coração, a satisfação da consciência. A oração é indiscutivelmente o maior bem interior, o mais imperecível de todos os bens.

Quem despreza a oração desconhece o que há de maior que é a comunhão com a ALMA DO UNIVERSO, com esse foco de onde irradiam para sempre a inteligência e o amor; despreza também as potências interiores que fazem a nossa verdadeira riqueza. Por isso digo e repito: “FELIZES OS QUE SABEM ORAR!” Pelo poder da oração fazemos nossa elevação, nossa glória, nossa ventura. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário