sexta-feira, 13 de março de 2015

FELIZES OS QUE SABEM ORAR SEGUNDA PARTE A DIFÍCIL ESCOLHA DE UMA RELIGIÃO NA INFÂNCIA


Como criança criada por mãe católica, pai espírita kardecista, e estudando em colégio das freiras vicentinas, vi logo cedo, conflitos estamparem-se nos painéis da minha mente. Fazia verdadeiros exercícios aeróbicos para acompanhar a maratona da ginástica militar de meu pai, e usava táticas mais eficazes para não melindrar minha mãe com nossas idas semanais às missas da Igreja do nosso bairro. Acontecimentos muito marcantes na minha idade pré-escolar, pois constatava até  uma certa facilidade, que me encontrava num jogo de quebra-cabeça, prontamente qualificando-me como perdedora pois minha mãe e a freiras eram severas demais e cobravam respostas rápidas para perpetuar meus votos como católica apostólica romana.
Em meus sonhos, via um padre conversar comigo, sobre assuntos profundos do livro A Gênese de Allan Kardec, e acordar pela manhã, a imagem do padre estava clara ali bem perto da cama. Moreno, alto, magro, velhinho e muito sereno, pedia para que eu contasse ao meu pai, sobre as minhas visões, mas eu não entendia ou tinha medo de que minha mãe se zangasse comigo. Quando ia para a escola, gostava muito de conversar com duas freiras, a Irmã Inês e a Madre Superiora – Irmã Vicência. Brincavam comigo, liam a Bíblia e levavam-me ao Convento, lugar restrito somente às freiras que trabalhavam no colégio. Mas eu tinha um privilégio e sentia-me muito alegre e feliz. Estes cenários marcaram profundamente cada dia da infância, e assim fomentava o desejo interior de ser freira como aquelas duas amigas.

Era evidente que não sabia o que queria; contudo, algo mais sério estava por acontecer, e certo dia alguns amigos do papai, vieram à nossa casa para estudar o livro A Gênese de Allan Kardec. Sentaram-se nas cadeiras ao redor da mesa na sala de jantar e todos muito sérios, abriram seus livros, e meu pai começou a ler um trecho do livro que dissertava sobre a Existência de Deus. Aproximei-me e fiquei bem quietinha ouvindo atrás da porta. Nessa época eu tinha seis ou sete anos de idade. Já sabia ler razoavelmente, porque gostava de leituras religiosas que aprendera com papai. Atenta ao trecho que todos passaram a discutir, ouvi um dos amigos do papai falar: “Sendo Deus a causa primária de todas as coisas, o ponto de partida de tudo, o eixo sobre o qual repousa o edifício da criação, é o ponto que importa considerar antes de tudo”. Fiquei atordoada e corri para o colo do papai e disse: Quero saber mais, quero ficar aqui nessa sessão espírita. O meu amigo padre diz que eu sou médium e que ele vai trabalhar comigo, para ajudarmos muitas pessoas. Todos se olharam muito espantados. Lembro-me perfeitamente o que o Senhor Tomé, um dos presentes, disse ao meu pai: - É, Cony, sua menina traz na alma uma grande missão. É preciso orientá-la na Doutrina Espírita para que receba a evangelização infantil para educar a faculdade mediúnica de que é portadora. A vida dela fará esse pedido, essa cobrança. Cedo ou tarde, alguns sofrimentos poderão se fazer tão presentes, e talvez a Luizinha  terá  que suportar o turbilhão emocional que a vida nos impõe a todos, e de não se tornar uma “escrava dos rompantes mediúnicos”. O objetivo é contenção de excessos, precaução e inteligência na condução da própria vida;  equilíbrio e sabedoria, e não a supressão das emoções: cada sentimento tem um valor e significado.

A mediunidade deve ser equilibrada na dose certa, com o sentimento proporcional à circunstância. Quando as manifestações mediúnicas são sufocadas, geram embotamento e frieza; quando escapam ao nosso controle, extremadas e renitentes, tornam-se doentias, causando distúrbios patológicos, tal como ocorre na ansiedade que aniquila, na raiva demente e na agitação maníaca. O bem estar é fundamental para não minar nossa estabilidade emocional, na verdade, para manter sob controle, tanto o transe mediúnico como as emoções que nos afligem.  Altos e baixos são constatados na grande maioria  dos médiuns, mudanças de humor, episódios de insatisfação pessoal – tudo incomoda, sentimentos extremamente raivosos, uma verdadeira montanha russa emocional. O que evidencia grandes agitações, ansiedade crônica, ira descontrolada. O cérebro passa a trabalhar sob essa forte pressão emocional. No ponto mais severo é insuportável, para que sejam debeladas as perturbações  pode ser necessária a medicação, psicoterapia ou as duas coisas juntas.

Portanto, Cony, você como pai e espírita, tem o dever de auxiliar a Luizinha, esclarecê-la desde agora, para conhecer os propósitos de uma missão mediúnica, a prática da verdadeira caridade e do amor ao próximo. Explique o que diz o Livro dos Médiuns de Allan Kardec, no capítulo XIV: Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva. Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. Os médiuns tem, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: Médiuns de efeitos físicos, médiuns sensitivos ou impressionáveis, auditivos, falantes, videntes, sonâmbulos (animismo), curadores, pneumatógrafos, escreventes e psicógrafos.

Cony, fale com sua esposa Yolanda, ela precisa saber dessas manifestações na Luizínha, para que venha concordar com você, e juntos conduzirem a menina até o Centro Espírita Madre Joana.
- Tomé, é quase impossível, porque a Yolanda é católica fervorosa, e você sabe que ela não admite essas nossas reuniões, e quando a Luíza fica perto como agora, sai briga depois. A Yolanda contou que por diversas vezes, vê a Luiza com folhas de papel de embrulhar pão, e um lápis na mão esquerda – ela é canhota, tentando escrever coisas que nem consegue soletrar. Diz que o Padre está ditando uma carta de amor, como fazem nas novelas do rádio, e assim, fica sentadinha numa cadeira, segurando as folhas rabiscadas, só que depois, a Luiza quer guardar para mostrar-me, e aí a Yolanda joga tudo fora, coloca a menina de castigo e diz que Deus não gosta dessas estranhezas. Chorando sem parar, a Luiza também me revela seus sentimentos, e pede para orarmos juntos, o que o Padre – seu amigo espiritual, ensinou- me: Orar é estar com Jesus, é alegrar-se, é deixar o coração mais feliz. O Senhor é só bondade e sabe o que é melhor para a minha vida. Sou ainda uma criança, e com o tempo vou aplicar-me nas leituras espíritas, cultivarei cada aprendizado com meu amor. Minha alma é valente e, pacientemente aguardarei o momento propício para revelar-me uma obreira do Senhor. Por isso vou silenciar esta fase da minha existência, como uma oração que contenha a harmonia de nossa tão antiga amizade e união espiritual. Não guardarei no coração nada que possa ferir outro ser. Assim, minha alma será envolvida em pureza e fraternidade. Tomarei a minha cruz e seguirei Jesus. Não haverá perigo algum que não possa ser transformado em desafio de amor que eu, como serva fiel ampliarei como bens de autêntica caridade para enxugar as lágrimas dos que sofrem.

De hoje em diante, a sua vida e mediunidade integram-se à minha vida de Missionário do Cristo. Você crescerá, e mesmo na dor deverá estar ciente de tudo o que a Doutrina Espírita esclarece. Preste atenção! Sou seu irmão e Guia Espiritual. Acompanho-a há muitos e muitos séculos, e sei que você estará predisposta a ultrapassar toda e qualquer barreira, haja o que houver. Lembre-se, Luiza , estarei colocando minha mão na sua mão, para escrever (psicografia), para muitas pessoas,sobre os valores morais, as Verdades de Jesus. As pessoas carregam dentro delas, muitos obstáculos e limitações que parecem impedi-las de contatar a realidade, mas também tem dentro delas a semente da espiritualidade – a alma que contém nas profundezas a imagem de Deus.
Tome estas palavras  tão longas, hoje, e faça-as vibrar como Luz, além dos limites do que se pode ver ou saber. Essa Luz une os corações.
Pronuncie em silêncio, e fervorosamente:  O meu “AMÉM”, não será mais vazio, porque a oração é ato nobre quando move um sentimento intenso e ardente desejo de fazer o bem ao próximo sem nenhum objetivo pessoal nem egoísta.
- Papai, digamos juntos: Senhor, assim seja feita a Vossa Santa Vontade, e não segundo a nossa, porque quereis o nosso bem e sabeis melhor do que nós o que nos é útil.
Encerrada a prece, papai pergunta: - Luiza, você sabe o nome do seu Amigo Espiritual?
- Ele acaba de dizer que é mais conhecido como ABEL MONSENHOR.
- Ah! Minha filhinha, estou feliz por você. Lembrarei e sempre pronunciarei o nome dele, em nossas orações...

Alí,  fora declarada a minha escolha religiosa, num segredo quase divino, cuja chave para desvendá-lo, o Espiritismo deu-me, depois de muitos anos, já na vida adulta.

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