Há diversos
exemplos de homens que adquiriram um estado de consciência ética aplicada em
favor da Humanidade, como São Vicente de Paulo, Madre Tereza de Calcutá, Allan
Kardec, Nietzsche, Chico Xavier, Schweitzer, porque é a conquista da
iluminação, da lucidez intelecto-moral, do dever solidário e humano. Ela proporciona
uma criatividade construtiva ilimitada que conduz à santificação, na fé e na
religião; ao heroísmo, na luta cotidiana e nas batalhas profissionais; ao
apogeu na arte, na ciência, na filosofia, pelo empenho que enseja em favor de
uma plena identificação com o ideal esposado.
O homem é o
único “animal ético” que existe. Não obstante, um exame da sociedade nas suas
variadas épocas, face à agressividade bélica, à indiferença pela vida, à barbárie
em inúmeras ocasiões, nos demonstre o contrário. Somente ele pode apresentar
uma “consciência criativa”, pensar em termos de abstrações como a beleza, a
bondade, a esperança e cultivar ideais de enobrecimento. Essa consciência ética
nele existe em potencial, aguardando que seja desenvolvida mediante e após o autodescobrimento,
a aquisição de valores que lhe proporcionem o senso de liberdade para eleger as
experiências que lhe cabe vivenciar. Atavicamente receoso, experimenta conflitos que o
atormentam, dificultando-lhe discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal,
o bom e o pernicioso. Ainda dominado pelo egocentrismo da infância, de que não
se libertou, pensa que o mundo existe para que ele o desfrute e as pessoas a
fim de que o sirvam, disputando e tomando à força, o que supõe pertencer-lhe
por direito ancestral.
Diversos caminhos,
porém, deverá ele percorrer para que a autoconsciência lhe descortine as
aquisições éticas indispensáveis: a afirmação de si mesmo, a introspecção, o
amadurecimento psicológico e a autovalorização entre outros... O “negar a si
mesmo” do Evangelho, que faculta a personalidades patológicas o mergulho no
abandono do corpo e da vida, em reação cruel, destituído de objetivo
libertador, aqui aparece como mecanismo de fuga da realidade, medo de enfrentar
a sociedade e de lutar para conseguir o seu “lugar ao sol”, como membro atuante
e útil da Humanidade, que necessita crescer graças à sua ajuda. Este conceito
cristão mantém as suas raízes na necessidade de “negar-se” ao ego prepotente e
dominador, a submissão do próximo, em favor das suas paixões, a fim de seguir o
Cristo, aqui significando a verdade que liberta. O desprezo a si mesmo,
literalmente considerado, constitui reação de ódio e ressentimento pela vida e
pela Humanidade, mortificando o corpo ante a impossibilidade de castigar a
Sociedade.
O homem que
se afirma pela ação bem direcionada, conquista resistência para preservar na
busca das metas que estabelece, amadurecendo a consciência ética de
responsabilidade e dever, o que o credencia a logros mais audaciosos. Ele rompe
as algemas da timidez, saindo do calabouço da preocupação, às vezes,
patológica, de parecer bem, de ser tido como pessoa realizada ou viver fugindo
do contato social. Ou pelo contrário, canaliza a agressividade, a impetuosidade
de que se vê possuído para superar os impulsos ansiosos, aprendendo a conviver
com o equilíbrio e em grupo, no qual há respeito entre os seus membros, sem
dominadores nem dominados. Consegue o senso de planejamento das suas ações,
criando um ritmo de trabalho que o não exaure no excesso, nem o amolece na sociedade,
participando do esforço geral para o seu progresso e o da comunidade. Adquire um
conceito lógico de tempo e oportunidade para a realização dos seus
empreendimentos, confiando com tranquilidade no resultado dos esforços
dispendidos.
Mediante a
autoconsciência aplica de modo salutar as experiências passadas, sem
saudosismos, sem ressentimentos, planejando as novas com um programa bem
delineado que resulta do processamento dos dados já vividos e adicionados às expectativas
em pauta a viver. Por sua vez, o fenômeno da autoconsciência consiste no
conhecimento lógico do que fazer e como executá-lo, sem conceder-lhe demasiada
importância, que se transforme numa
obsessão, pelos minuciosos detalhes e face ao excesso de cuidados, correndo o
risco de lamentável perfeccionismo. Ele resulta de uma forma de dilatação do
que se sabe, de uma consciência vigilante e lúcida do que se realiza,
expandindo a vida e, como efeito, graças ao dinamismo adquirido, sentir-se
liberado de tensões, fora de conflitos. Esta
conquista de si mesmo enseja maior soma de realizações, um campo mais amplo de criatividade
e mais espontaneidade.
A “VARINHA
MAGICA” DE LUÍZA CONY