domingo, 14 de maio de 2017

VIDA: DESAFIOS E DISCIPLINA


A palavra “DISCIPLINA” faz nascer  sentimentos desagradáveis na mente de muitos indivíduos. É sintoma de “sacrifício”, “sofrimento”, “renúncia”.
A vida sem disciplina acaba por se tornar aos poucos, tão monótona e insuportável que o indivíduo escravizado  por seus caprichos arbitrários procura intensificar progressivamente as suas satisfações a fim de poder senti-las ainda, porque sua sensibilidade vai se enfraquecendo gradualmente e, por fim, nada mais o satisfaz. O indivíduo indisciplinado necessita de intensos estímulos, chicotadas nos nervos calejados para coloca-los em vibração, ao passo que o indivíduo disciplinado se enche  de pura alegria e delicada satisfação com acontecimentos mais singelos da vida cotidiana, uma florzinha à beira da estrada, o encontro eventual com um amigo, o sorriso de uma criança, os gorjeios de um passarinho, o som de melodias singelas, uma noite de luar, a sinfonia noturna dos grilos na grama de um jardim, - tudo lhe é motivo de satisfação, porque os seus nervos se acham afinados por uma frequência vibratória sutil que só a disciplina pode dar.
Disse o Mestre Jesus: “Eu vim para que os homens tenham a vida, e a tenham com maior abundância”. Ninguém vive vida tão rica e fascinante como o indivíduo plenamente realizado em sua íntima essência espiritual e divina, o homem disciplinado, espiritualizado, crístico.
Com pleno desenvolvimento dos sentidos atinge o indivíduo o ponto mais elevado da sua vida que funciona inconscientemente. Mais tarde, muitos desenvolvem notável grau de vida intelectual, com todas suas ramificações através de diversos departamentos da existência terrena.
Certo número de indivíduos tenta invadir o mundo espiritual, divino, universal; mas a maior parte só o consegue por meio de crença, sem nenhuma experiência própria. Somente vez ou outra, aparece um indivíduo que pode dizer com verdade: “Eu sei o que digo e dou testemunho daquilo que vi”. Esse ser humano possui a vida com notável abundância, embora seja possível aumentar cada vez mais essa abundância, por uma sucessiva intensificação da sua experiência.
Para essa intensificação da experiência do Mundo de Deus é necessária uma disciplina orientada.
Um rio estendido pela praia pela extensão de um quilômetro, para a direita e para a esquerda, tem pouca força, porque a sua largura é grande e a sua profundeza é pequena. A força, porém, está na verticalidade, assim como a fraqueza está na horizontalidade. Se estreitarmos as margens desse rio entre dois paredões de ferro e cimento até acusar apenas 100 metros de largura, será muito maior sua força, porque a sua profundidade cresceu na razão em que sua largura decresceu. E se conseguíssemos reduzir-lhe o volume de água a 10 metros de largura, seria irresistível a força das suas águas, agora transformada em impetuosa cachoeira, capaz de mover poderosas máquinas.
Como foi que essa mesma água, tão fraca a princípio, adquiriu tamanha força?
Unicamente pela “DISCIPLINA”, pela compreensão do seu volume em pequeno espaço. Submetemos o rio a uma espécie de sacrifício, de renúncia, de desafios, de concentração – e sua inércia estática de ontem se converteu na atividade dinâmica de hoje. Adquiriu “vida mais abundante” e também, porque não dizer “disciplina”.
No princípio, toda disciplina parece matar ou diminuir a vida; parece ser um empobrecimento, e não um enriquecimento da vida humana. E muitos principiantes desanimam nesse estágio inicial e voltam atrás,  preferindo o suave comodismo das planícies à austera dinâmica das profundidades e alturas. Os  que tem coragem de afrontar os desafios iniciais e tomar sobre si, voluntariamente, as renúncias necessárias, acabarão por verificar que a vida com estreita disciplina é incomparavelmente mais rica e fascinante do que a vida levada ao sabor dos caprichos e das fantasias do momento. Provavelmente, são poucas as horas de folga do indivíduo de vida disciplinada, mas essas poucas horas superam em qualidade e intensidade todas as quantidades e duração das muitas horas ociosas do ser humano indisciplinado. O mais fino sabor da vida humana nasce da disciplina voluntariamente aceita e rigorosamente observada, apesar de todos os caprichos e fantasias em contrário. Dessa disciplina fazem  parte também uma rigorosa e absoluta fidelidade aos compromissos assumidos.
O indivíduo disciplinado é austero consigo mesmo e pronto a perdoar os outros. No entanto, não se perdoa facilmente a si mesmo a infração do seu programa.
E nessa espontânea e auto  imposta austeridade é que ele encontra o inebriante elixir de uma perpétua serenidade e profunda suavidade.
                                                           ***
Aqui faço um parêntese para relatar uma experiência pessoal. – ao sentir desafios no curso escolar por volta dos 15 anos de idade, percebi a seriedade com que me dispunha a estudar. Tirava boas notas em todas as matérias e sempre terminava o ano letivo como excelente aluna, com direito a não pagar mensalidade que eram altas por ser um colégio particular bem conceituado no bairro onde eu morava.
Certamente os desafios aumentavam porque me propunha a estudar cada vez mais e ser evidentemente mais disciplinada.
O papai recebia cartas do diretor da escola, nas quais constavam somente elogios à minha pessoa. Tudo isso representava para mim, alegria, esperança, amor, confiança, fé e mais desafios, concentração nos estudos e disciplina no modo de viver aquela fase da minha existência.
Com esta visão da vida e experiência escolar, acabei sendo chamada para uma reunião na sala dos professores, pois tanto eles como o diretor geral queriam fazer-me um pedido e qual  seria a minha resposta. Confesso que estava muito curiosa, mas disposta a aceitar o desafio. Então o diretor disse: Luíza, queremos que acompanhe os estudos de um novo aluno que a partir de hoje ingressa na sua sala de aula, porém ele está abaixo da média das notas exigidas neste colégio. O nome dele é Airton, é filho de pais bem conceituados em nosso bairro, proprietários de uma grande loja de tecidos e de confecção de uniformes escolares, vestidos de noivas e trajes de festas, bailes, etc.
O Airton estudou em alguns colégios de padres, mas foi expulso por péssimo comportamento, contudo, seus pais imploraram para admiti-lo em nosso colégio. E aqui estamos reunidos com você, por ser disciplinada nos estudos, na educação e no convívio com os demais colegas.
Você deverá passar para ele todas as matérias e se necessitar de algum esclarecimento dos professores poderá contar com toda certeza; será preciso fazer anotações no quadro negro para exemplificar item por item das questões em pauta.
Deverá também acompanhá-lo até a residência após as aulas, e se possível passar a tarde com ele, ajudando a copiar cada matéria nos devidos cadernos. Sabemos que será uma ajuda muito especial que você dará, no entanto, confiamos nas suas habilidades, educação, inteligência e amor ao próximo.
Minha resposta foi imediata, num sim de solidariedade, absoluta responsabilidade ao compromisso assumido perante o diretor e professores. Em seguida o diretor pediu para o aluno entrar na sala e nos apresentamos com uma  certa timidez. Para quebrar esse clima, eu lhe disse: Airton,  já nos conhecemos desde crianças. Está lembrando? Enquanto minha mãe conversava com seus pais na loja, você e eu corríamos ao redor deles, rindo e cantando – “Atirei um pau no gato, to, to”. Ele se pôs a chorar, olhou para o diretor e disse: eu não  vou perder tamanha oportunidade que Deus está me dando. Vou me corrigir, vou me comportar o melhor possível. A Luíza será recompensada por ter paciência para ensinar-me a estudar e acreditar na minha recuperação. Estou muito envergonhado. Obrigado a todos e espero não decepcioná-los. E desse encontro nasceu uma grande amizade com todo respeito, educação, paciência e admiração pelo esforço do Airton, pela transformação que ele mesmo dizia estar experimentando. Seus pais só me agradeciam. Os colegas diziam que eu mais parecia uma professora exigente do que uma colega e aluna disciplinada, cheia de conhecimentos e medalhas.
Meu tempo era preenchido com muitos desafios  mas com retornos profundamente ricos de amor, fé, paciência e confiança, pois, sentia-me servindo a Deus na pessoa daquele adolescente que começava a dar os primeiros passos para tornar-se um ser humano melhor de boa vontade e fé, compreendendo melhor a vida e o seu papel no convívio familiar e social.
Por isto, tudo é possível àquele que tem Fé. Quem tem fé sabe por experiência própria que possui a Verdade.
A experiência da Verdade, nos  exige sacrifícios iniciais e sofrimentos; mas estas “desvantagens” aparentes e imediatas são amplamente compensadas, a longo alcance, por vantagens reais e permanentes.
A Verdade é sempre libertadora, ainda que nos obrigue a andar pelo “caminho estreito” da disciplina.
Lembremos de que, por maiores tenham sido os desregramentos da Humanidade da Terra, o Céu nunca fez coleções de nuvens para amaldiçoar ou punir, mas sim, cada manhã, acende o brilho solar por mensagem bendita de tolerância e de amor, endereçando aos seres humanos a esperança infatigável de Deus, o Criador das nossas almas – portanto de eterna vida.
                                                           ***
A “SENTINELA DA EVOLUÇÃO HUMANA” – POR LUÍZA CONY






Nenhum comentário:

Postar um comentário