A palavra “DISCIPLINA”
faz nascer sentimentos desagradáveis na
mente de muitos indivíduos. É sintoma de “sacrifício”, “sofrimento”, “renúncia”.
A vida sem
disciplina acaba por se tornar aos poucos, tão monótona e insuportável que o
indivíduo escravizado por seus caprichos
arbitrários procura intensificar progressivamente as suas satisfações a fim de
poder senti-las ainda, porque sua sensibilidade vai se enfraquecendo
gradualmente e, por fim, nada mais o satisfaz. O indivíduo indisciplinado necessita
de intensos estímulos, chicotadas nos nervos calejados para coloca-los em
vibração, ao passo que o indivíduo disciplinado se enche de pura alegria e delicada satisfação com
acontecimentos mais singelos da vida cotidiana, uma florzinha à beira da
estrada, o encontro eventual com um amigo, o sorriso de uma criança, os
gorjeios de um passarinho, o som de melodias singelas, uma noite de luar, a
sinfonia noturna dos grilos na grama de um jardim, - tudo lhe é motivo de satisfação,
porque os seus nervos se acham afinados por uma frequência vibratória sutil que
só a disciplina pode dar.
Disse o
Mestre Jesus: “Eu vim para que os homens tenham a vida, e a tenham com maior
abundância”. Ninguém vive vida tão rica e fascinante como o indivíduo
plenamente realizado em sua íntima essência espiritual e divina, o homem
disciplinado, espiritualizado, crístico.
Com pleno
desenvolvimento dos sentidos atinge o indivíduo o ponto mais elevado da sua
vida que funciona inconscientemente. Mais tarde, muitos desenvolvem notável
grau de vida intelectual, com todas suas ramificações através de diversos
departamentos da existência terrena.
Certo número
de indivíduos tenta invadir o mundo espiritual, divino, universal; mas a maior
parte só o consegue por meio de crença, sem nenhuma experiência própria. Somente
vez ou outra, aparece um indivíduo que pode dizer com verdade: “Eu sei o que
digo e dou testemunho daquilo que vi”. Esse ser humano possui a vida com
notável abundância, embora seja possível aumentar cada vez mais essa
abundância, por uma sucessiva intensificação da sua experiência.
Para essa
intensificação da experiência do Mundo de Deus é necessária uma disciplina
orientada.
Um rio
estendido pela praia pela extensão de um quilômetro, para a direita e para a
esquerda, tem pouca força, porque a sua largura é grande e a sua profundeza é
pequena. A força, porém, está na verticalidade, assim como a fraqueza está na
horizontalidade. Se estreitarmos as margens desse rio entre dois paredões de
ferro e cimento até acusar apenas 100 metros de largura, será muito maior sua
força, porque a sua profundidade cresceu na razão em que sua largura decresceu.
E se conseguíssemos reduzir-lhe o volume de água a 10 metros de largura, seria
irresistível a força das suas águas, agora transformada em impetuosa cachoeira,
capaz de mover poderosas máquinas.
Como foi que
essa mesma água, tão fraca a princípio, adquiriu tamanha força?
Unicamente pela
“DISCIPLINA”, pela compreensão do seu volume em pequeno espaço. Submetemos o
rio a uma espécie de sacrifício, de renúncia, de desafios, de concentração – e sua
inércia estática de ontem se converteu na atividade dinâmica de hoje. Adquiriu “vida
mais abundante” e também, porque não dizer “disciplina”.
No princípio,
toda disciplina parece matar ou diminuir a vida; parece ser um empobrecimento,
e não um enriquecimento da vida humana. E muitos principiantes desanimam nesse
estágio inicial e voltam atrás,
preferindo o suave comodismo das planícies à austera dinâmica das
profundidades e alturas. Os que tem
coragem de afrontar os desafios iniciais e tomar sobre si, voluntariamente, as
renúncias necessárias, acabarão por verificar que a vida com estreita
disciplina é incomparavelmente mais rica e fascinante do que a vida levada ao
sabor dos caprichos e das fantasias do momento. Provavelmente, são poucas as
horas de folga do indivíduo de vida disciplinada, mas essas poucas horas
superam em qualidade e intensidade todas as quantidades e duração das muitas
horas ociosas do ser humano indisciplinado. O mais fino sabor da vida humana nasce
da disciplina voluntariamente aceita e rigorosamente observada, apesar de todos
os caprichos e fantasias em contrário. Dessa disciplina fazem parte também uma rigorosa e absoluta
fidelidade aos compromissos assumidos.
O indivíduo
disciplinado é austero consigo mesmo e pronto a perdoar os outros. No entanto,
não se perdoa facilmente a si mesmo a infração do seu programa.
E nessa
espontânea e auto imposta austeridade é
que ele encontra o inebriante elixir de uma perpétua serenidade e profunda
suavidade.
***
Aqui faço um
parêntese para relatar uma experiência pessoal. – ao sentir desafios no curso
escolar por volta dos 15 anos de idade, percebi a seriedade com que me dispunha
a estudar. Tirava boas notas em todas as matérias e sempre terminava o ano
letivo como excelente aluna, com direito a não pagar mensalidade que eram altas
por ser um colégio particular bem conceituado no bairro onde eu morava.
Certamente os
desafios aumentavam porque me propunha a estudar cada vez mais e ser
evidentemente mais disciplinada.
O papai
recebia cartas do diretor da escola, nas quais constavam somente elogios à
minha pessoa. Tudo isso representava para mim, alegria, esperança, amor,
confiança, fé e mais desafios, concentração nos estudos e disciplina no modo de
viver aquela fase da minha existência.
Com esta
visão da vida e experiência escolar, acabei sendo chamada para uma reunião na
sala dos professores, pois tanto eles como o diretor geral queriam fazer-me um
pedido e qual seria a minha resposta. Confesso
que estava muito curiosa, mas disposta a aceitar o desafio. Então o diretor
disse: Luíza, queremos que acompanhe os estudos de um novo aluno que a partir
de hoje ingressa na sua sala de aula, porém ele está abaixo da média das notas
exigidas neste colégio. O nome dele é Airton, é filho de pais bem conceituados
em nosso bairro, proprietários de uma grande loja de tecidos e de confecção de
uniformes escolares, vestidos de noivas e trajes de festas, bailes, etc.
O Airton estudou
em alguns colégios de padres, mas foi expulso por péssimo comportamento,
contudo, seus pais imploraram para admiti-lo em nosso colégio. E aqui estamos
reunidos com você, por ser disciplinada nos estudos, na educação e no convívio com
os demais colegas.
Você deverá
passar para ele todas as matérias e se necessitar de algum esclarecimento dos
professores poderá contar com toda certeza; será preciso fazer anotações no
quadro negro para exemplificar item por item das questões em pauta.
Deverá também
acompanhá-lo até a residência após as aulas, e se possível passar a tarde com
ele, ajudando a copiar cada matéria nos devidos cadernos. Sabemos que será uma
ajuda muito especial que você dará, no entanto, confiamos nas suas habilidades,
educação, inteligência e amor ao próximo.
Minha resposta
foi imediata, num sim de solidariedade, absoluta responsabilidade ao
compromisso assumido perante o diretor e professores. Em seguida o diretor
pediu para o aluno entrar na sala e nos apresentamos com uma certa timidez. Para quebrar esse clima, eu lhe
disse: Airton, já nos conhecemos desde
crianças. Está lembrando? Enquanto minha mãe conversava com seus pais na loja, você
e eu corríamos ao redor deles, rindo e cantando – “Atirei um pau no gato, to,
to”. Ele se pôs a chorar, olhou para o diretor e disse: eu não vou perder tamanha oportunidade que Deus está
me dando. Vou me corrigir, vou me comportar o melhor possível. A Luíza será
recompensada por ter paciência para ensinar-me a estudar e acreditar na minha
recuperação. Estou muito envergonhado. Obrigado a todos e espero não
decepcioná-los. E desse encontro nasceu uma grande amizade com todo respeito,
educação, paciência e admiração pelo esforço do Airton, pela transformação que
ele mesmo dizia estar experimentando. Seus pais só me agradeciam. Os colegas
diziam que eu mais parecia uma professora exigente do que uma colega e aluna
disciplinada, cheia de conhecimentos e medalhas.
Meu tempo
era preenchido com muitos desafios mas
com retornos profundamente ricos de amor, fé, paciência e confiança, pois,
sentia-me servindo a Deus na pessoa daquele adolescente que começava a dar os
primeiros passos para tornar-se um ser humano melhor de boa vontade e fé,
compreendendo melhor a vida e o seu papel no convívio familiar e social.
Por isto,
tudo é possível àquele que tem Fé. Quem tem fé sabe por experiência própria que
possui a Verdade.
A experiência
da Verdade, nos exige sacrifícios
iniciais e sofrimentos; mas estas “desvantagens” aparentes e imediatas são
amplamente compensadas, a longo alcance, por vantagens reais e permanentes.
A Verdade é
sempre libertadora, ainda que nos obrigue a andar pelo “caminho estreito” da
disciplina.
Lembremos de
que, por maiores tenham sido os desregramentos da Humanidade da Terra, o Céu
nunca fez coleções de nuvens para amaldiçoar ou punir, mas sim, cada manhã,
acende o brilho solar por mensagem bendita de tolerância e de amor, endereçando
aos seres humanos a esperança infatigável de Deus, o Criador das nossas almas –
portanto de eterna vida.
***
A “SENTINELA
DA EVOLUÇÃO HUMANA” – POR LUÍZA CONY
Nenhum comentário:
Postar um comentário