domingo, 7 de agosto de 2016

AS TRAVESSURAS DO EGOÍSMO


Um dia o Egoísmo se disfarçou de gente. Vestiu uma roupa e, entre gargalhadas, disse: - Vou buscar pessoas para prendê-las na minha Ilha da Solidão! Ele foi para uma cidade e batia de porta em porta, pedindo coisas para descobrir, nos gestos e nos olhos das pessoas que o atendiam, alguém que ele pudesse aprisionar.
Toc... toc.. toc...
A menina Paulinha, segurando uma velha boneca, abriu a porta, olhando-o, muito ressabiada:
- O que quer?
- Tenho uma netinha doentinha que está querendo um brinquedinho, igualzinho a esse que você está segurando, disse, fingindo.
- Pois que continue doente!
O Egoísmo estendeu suas garras para pegar a boneca, mas Paulinha agarrou-se fortemente ao brinquedo, gritando e batendo os pés.
- Você não têm outros? – Perguntou o Egoísmo.
- Tenho. Mas são meus! Meus, ouviu?
- Você é muito providente! A minha netinha, muito descabeçada que é, sempre deu o que era dela para as outras crianças. Agora, quando ela precisa, ninguém lhe dá coisa alguma.  O mundo é assim mesmo! Por isso, Paulinha, acho que você está certa! O que é seu, é seu!
Claro! O que é meu, é meu!
Ele afastou-se, e, quando Paulinha fechou a porta, ele tirou a roupa e ficou invisível. Quando alguém pedia qualquer coisa para Paulinha, o Egoísmo chegava bem perto do ouvido da menina e lhe falava: - Não dê! Lembre-se: O que é seu, é seu! E ela obedecia!
As traças comiam as roupas dela que ficavam guardadas na gaveta, mas ela não as dava para as crianças pobres. Na escola, quando Paulinha comia seu lanche, mesmo quando via uma colega olhando com vontade, dizia: - O lanche é meu!
A mãe de Paulinha lhe chamava a atenção, mas ela não queria saber do que a mãe falava. Fazia tudo para não tomar conhecimento da arte de socorrer famintos, da ciência de repartir, da religião do amor ao próximo. Ela ficou com o coração endurecido!
Depois de um tempo, o Egoísmo se materializou e foi à casa de Paulinha. Quando ela abriu a porta, ele colocou a menina dentro de uma velha sacola e levou-a para a Ilha da Solidão, prendendo-a numa jaula, cercada por seus ferozes cães.
Passando algum tempo, Melo e o coelho Flok começaram a procurar pela Paulinha. Chegaram perto da Ilha da Solidão e ficaram espiando com um binóculo para ver se encontravam Paulinha.
De repente, avistaram a menina presa em uma jaula, sendo vigiada pelos cães do Egoísmo.
- Encontrei a Paulinha! – Falou feliz, Melo.
- Se ela está na Ilha da Solidão, por que não dá um jeito e foge? – Perguntou o coelho Flok.
- Acontece, Flok, que a ilha não tem uma só ponte, nada que a ligue à terra firme!
- Como é que chegaremos lá?
- Vamos aproveitar que a ilha está deserta e que os cães saíram para caçar!
Antes, os dois amigos sentaram-se e comeram um lanche juntos. Depois, Melo tirou um cabo de aço que jogou do outro lado, na ilha, e esticou muito bem, amarrando-o em uma árvore. Subiu no cabo de aço, qual equilibrista e chamou Flok. No primeiro pulo... plaft... Caiu de cara no chão. Mas, rápido, se levantou e subiu no cabo de aço, andando atrás de Melo. Tremendo muito, o coelho estava cai-não-cai, nas águas lá embaixo.
- Coragem, Flok!
- Cora- gem... Tenho! O que não consigo... é...é....é andar!
Melo, que já descera do cabo de aço, jogou uns pedaços de carne para os cães, e, enquanto eles brigavam para comer, correu em direção à janela e quebrou as grades, correndo de volta para o cabo de aço, com Paulinha.
- Auf... auf...auf...Os cães já estavam perseguindo Melo e Paulinha, quando os dois chegaram juntos ao cabo de aço.
- De volta Flok, gritou Melo.
- Mas... nem cheguei ainda!
- Ai vem os cães!
- Auf... auf...auf
Flok, ao ver os cães e com medo de ser comido, se pôs a correr pela corda, passando na frente de Melo e Paulinha, numa velocidade de avião a jato!
Os cães convencidos de que não conseguiam andar no cabo de aço, mergulharam na água, farejando o rastro dos fugitivos.
Os três estavam numa clareira, entre as árvores e o matagal.
- Aqui eles não nos pegarão! Disse melo.
- Estou... enfim...  livre!
- Como é que você veio parar na Ilha da Solidão? – perguntou o coelho.
- Eu me deixei iludir pelo Egoísmo. Um dia, me apareceu um velhinho pedindo uma boneca estragada e eu não dei, dizendo que era minha e de mais ninguém. Desde então, passei a ouvir uma voz que me falava baixinho: “O que é seu, é seu. Não deixe ninguém botar a mão”. E também me repetia: “O brinquedo é seu”. Não dê aos outros. A roupa é sua. Não deixe ninguém usá-la. “O pão é seu e coma só você, sem dar um pedacinho para ninguém”.
- Você nada respondia? – Perguntou Flok.
- Boba de mim! Achava que estava tudo certo. Não dava de empréstimo e nem repartia coisa alguma que era minha.
- E daí? – Perguntou Melo.
- Dai, fui perdendo as amiguinhas. Fui ficando abandonada... Até que, um dia... O tal do Egoísmo me apareceu e me prendeu na jaula, na Ilha da Solidão, onde fiquei gritando o tempo todo, sem que ninguém me ouvisse.
- Mas... alguém ouviu! – assegurou Melo.
- E quem me ouviu?
- Sua mãe, que nunca perdeu a esperança de salvá-la das garras do Egoísmo. Ela ouviu os seus gritos de desespero e de dor. E ela me contou a sua história... Aliás, uma história de todos os que querem tudo só para si, aceitando as sugestões do Egoísmo.
Ouviram de novo os latidos dos cães do Egoísmo e saíram correndo. Corta mato, atravessa mato, arranha que arranha, até que saíram numa estrada segura, voltando para casa e deixando os cães e o Egoísmo para trás.
No dia seguinte, em casa, Paulinha ouviu bater à porta.
Pos... poc... poc...
Ao abrir a porta, viu um velhinho de longas barbas e longas orelhas, que lhe suplicou: - Tenho uma netinha doente, que está cheia de vontade de comer cenouras! Ah! Minha boa menina, dizem que na sua casa tem uma bela horta e... Quero saber se me socorre?
Paulinha, sorridente, respondeu: - Claro que sim, meu bom “velhinho”... Flok! Pode entrar.
- Ora... Como é que me reconheceu?
- Porque o meu bom “velhinho” esqueceu de esconder as orelhas compridas e, também, pelo costume de pedir gulosamente por cenouras!
Melo, atrás da árvore, caiu na gargalhada. Os dois amigos, recebidos gentilmente, encontraram-se com muitas pessoas que entravam e saíam da casa de Paulinha, agradecendo as doações generosas da menina.
Ela aprendeu a repartir o que era seu. A lição de Jesus abriu o coração de Paulinha, mas também serviu para dar bons exemplos para outras crianças da escola, onde estudava.
Urgentemente, a mãe de Paulinha providenciou a compra do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que bem esclarece sobre o combate ao Egoísmo, deixando o Amor ao próximo calar fundo na vida de Paulinha e nos demais familiares, amigos e vizinhos.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony





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