segunda-feira, 22 de agosto de 2016

UMA SÓ É A META



Aceita a reencarnação, estabelece-se a ordem em torno de nós, nossa estrada ilumina-se e revela a finalidade última da vida; sabemos o que somos e para onde vamos. Então, as satisfações materiais perdem para nós sua atração e sentimos desejos de trabalhar com ardor pelo nosso adiantamento. A finalidade suprema é a perfeição, o caminho que nos conduz a ela é o progresso; este caminho é longo e se percorre passo a passo, a meta distante parece recuar à medida que se avança, mas, a cada obstáculo vencido, o ser recolhe os frutos dos próprios esforços, aumenta a própria experiência e desenvolve as suas faculdades.
Uma só é a meta mas não existem privilegiados nem malditos, todos concorrem ao mesmo imortal destino, e, através de mil obstáculos, são chamados às mesmas finalidades. Apesar disso, somos livres para apressar ou diminuir nossa ascensão, de imergir em gozos grosseiros, de estacionar durante existências inteiras na apatia e no vício, mas cedo ou tarde o sentimento do dever se desperta, a dor vem a sacudir a nossa inércia e retomamos forçosamente o nosso caminho.
As almas conhecem apenas diferenças de graus, as quais podem ser canceladas no futuro; usando de nosso livre arbítrio, não prosseguimos todos no mesmo passo, e isto explica a desigualdade intelectual e moral dos homens. Mas, todos filhos de um mesmo Pai, a sucessão de nossas existências deve nos levar para junto Dele para formar com nossos semelhantes uma só família, a grande família dos Espíritos que povoam o Universo – nas suas diversas moradas.
Não há mais lugar no mundo para o paraíso e para o inferno eterno: no imenso laboratório vemos somente seres que procuram sua própria educação, que se elevam pelos seus esforços para uma harmonia universal. Cada qual cria para si a própria condição com as obras das quais sofre as consequências que o vinculam e o caracterizam. Quando a vida é dedicada às paixões e estéril de bens, o ser retrocede, sua posição se amesquinha: para limpar-se de suas máculas, o Espírito deverá reencarnar-se nos mundos de provações e purificar-se ali com o sofrimento. Completada a expiação, retomará o próprio caminho; não existem penas eternas, mas uma reparação proporcionada e necessária dos erros cometidos.
Não temos outro juiz, outro carrasco, senão a nossa consciência, mas esta, logo que se liberta das sombras da matéria, torna-se imperiosa e insistente. Na ordem moral, como na ordem física, não existem senão causa e efeito, dirigidos por uma lei soberana, imutável, infalível. O que em nossa ignorância chamamos injustiça da sorte não é mais do que reparação do passado; o que chamamos de destino é o ressarcimento dos débitos contraídos conosco mesmo e para com a Lei. A existência atual é portanto a consequência direta, inevitável das nossas existências anteriores, como a vida futura será o resultado de nossas ações presentes. Ao revestir um novo corpo, a alma leva com ela, em cada renascimento, o fardo de suas qualidades e de seus vícios, o fardo de suas qualidades e de seus vícios, todo o bem e todo mal, acumulados nas obras do passado; assim, sucedendo-se nossas existências, somos nós mesmos que fabricamos nosso ser moral, que edificamos o nosso futuro, que preparamos o ambiente em que deveremos renascer, o posto que deveremos ocupar.
Com a Lei das Reencarnações, a Suprema Justiça ilumina os mundos; cada ser, fazendo emergir e dominando a razão e a consciência, torna-se artífice do próprio destino, e constrói ou desmancha à vontade as cadeias que o vinculam à matéria. É a ação desta Lei que explica as condições dolorosas às quais alguns estão sujeitos, pois cada vida culpada deve ser redimida. Chega o tempo em que as almas orgulhosas renascem em condições humildes e servis; em que o ocioso deve aceitar trabalhos duros, e aquele que provocou sofrimento deve, por sua vez, sofrer.
Mas a alma não está vinculada para sempre a esta terra escura e, após ter conquistado as qualidades necessárias, ela troca-a por regiões mais elevadas. Percorre os campos do céu semeados de mundos e de sóis; é acolhida no seio de outras humanidades, em novos centros de vida, onde, progredindo sempre, ampliará incessantemente a sua riqueza moral e o seu saber.
Depois de um número incontável de mortes e de renascimentos, de quedas e sofrimentos, liberta das reencarnações, a alma gozará da vida celeste, na qual participará do governo dos seres e das coisas, contribuindo com a obra sua para a universal harmonia, e para a execução do Plano Divino. Tal é o mistério da alma humana, pois que traz em si a Lei de seus destinos: chegar a descobrir a Lei, a decifrar-lhe o enigma, eis a verdadeira ciência da vida. Cada faísca conquistada ao foco divino, cada vitória sobre si mesmo, sobre as paixões, sobre os instintos egoísticos, provoca alegria íntima, tanto mais intensa quanto mais difícil tenha sido a vitória.
Este é o céu prometido aos nossos esforços; não está longe de nós, ele está em nós. Feliz ou triste, o homem leva no íntimo de seu ser a sua grandeza ou a sua miséria como consequências das próprias obras. As vozes melodiosas ou severas que falam dentro do ser humano são fiéis intérpretes da Grande Lei; são tanto mais fortes quanto mais estiver ele adiantado no caminho da perfeição.
A alma é um mundo onde a sombra e a luz ainda disputam o predomínio, e cujo estudo aprofundado nos leva de surpresa em surpresa. Nos abismos da alma, todas as potências estão em germe aguardando a hora da fecundação para expandir-se em feixes de luz; à medida que ela se purifica, suas percepções aumentam. Tudo o que nela atrai atualmente, dons da inteligência e lampejos de genialidade, é bem pouca coisa em comparação com o que a ela será um dia, quando tiver atingido as supremas alturas. Já possui desde agora imensos recursos ocultos, sentidos íntimos, variados e delicados, fontes de impressões vivas, cuja percepção quase sempre o nosso grosseiro invólucro impede a percepção. Somete poucas almas escolhidas, antecipadamente, livres da atração das coisas terrenas, purificadas pelo sacrifício, puderam antegozar, desde este mundo, as suas delícias, porém não puderam encontrar palavras para exprimir as inefáveis sensações das quais estavam inebriadas; e os homens, ignorando a verdadeira natureza da alma e dos tesouros nela sepultados, riram-se daquilo que consideraram ilusões e quimeras.

A “Varinha Mágica” de Luíza Cony

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