Envolvidos em circunstâncias absolutamente mutáveis, somos
bombardeados por milhares de opções que exigem decisões imediatas e requerem
objetividade diante da vida. Que preparos temos para dissolver o emaranhado de
pensamentos negativos que acumulamos desde a infância? Desconhecendo o poder da
nossa força interior, jogamos a nossa natureza original. Ignoramos a proposta
sublime de Deus: - O Amor – a mais alta razão. E como despertar o nosso ser
para uma realização maior? Jesus – a mais alta expressão do amor disse: “Bem-Aventurados
os puros de coração porque eles verão a Deus!”.
A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da
humildade e exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho. Aquele que tem o
coração puro não pensa mesmo no mal. Jesus condenou o pecado, mesmo em
pensamento porque é um sinal de impureza.
* * *
Quando Berenice e Alberto, casados há mais de 30 anos,
entraram na sala de consulta espiritual, eu lembrei que os conhecia desde a
adolescência, pois fomos colegas da mesma turma do curso colegial. Mas percebi
uma certa tristeza no rosto de Berenice, porque há anos o Alberto a traia e ela
amargurava a dor do adultério. Já com dificuldades, ela ficava ao lado dele sob
o mesmo teto. Alberto agia como se nada estivesse acontecendo. Suas ironias,
por vezes, mostravam o quanto estava, até em pensamento, traindo a esposa. O olhar
vazio, o rosto perturbado e o coração sangrando de infelicidade e de vontade de
ir embora de casa, consumar a separação da Berenice, para ficar ao lado da
amante, que só queria dele, os presentes, as joias, as viagens ao exterior, as
roupas caríssimas, badalações, a casa luxuosa onde ela morava, etc. etc.
Isis era imatura, maledicente, só se preocupava com as aparências,
com os atos externos. Quando alguém fazia comentários sobre religião, ela dizia
que tudo era uma ilusão, fanatismo e sua boca exclamava só blasfêmias. Seu
egoísmo e orgulho eram vorazes, seu coração estava cheio de adversidades. Quando
Alberto soletrava seu nome, como se estivesse declamando um poema, Isis
desviava o olhar e saia de perto. Alberto estava cego e obsediado, toda sua
ação era chocante, não havia bom senso ou decência, tudo o que ele fazia para Isis,
era de modo ostensivo.
Por enquanto a Berenice tinha amor pela vida e por Deus, Alberto
não dava nenhuma atenção para os assuntos religiosos que ela cultivava com
primor. Chamava-o para orar e ele saia de perto, dizendo que não tinha tempo,
batia a porta e corria desenfreadamente para a cada da Isis.
Berenice pensava: é difícil escapar do sofrimento, para
ensiná-lo temos de atingir-lhe o âmago. Eu preciso caminhar diariamente para
dentro de mim mesma. O Alberto não vai me destruir, ele ignora o amor pela
própria vida, não sabe virar o rosto às ilusões do mundo, nem desconfia sequer
que tudo o que dá para a Isis, ela recebe com falsidade. Quero ajuda-lo a descobrir
o caminho para dentro de si mesmo, sem força-lo. Por isso, vou orar, porque
enquanto faço a prece, recebo a sustentação de amor ao meu espírito. Então,
Berenice inicia a oração da sustentação Diária: - Pai nosso! O Vosso Nome está
gravado em nossa alma para que não nos esqueçamos de bendizer o Vosso amor e a
Vossa Misericórdia. A Vossa Vontade é soberana e tão sabiamente nos guia e nos
reserva grandes bens. Façamos com que a nossa vontade se alimente da Vossa
Santa Vontade para vencermos os males de toda espécie. Perdoai as nossas
fraquezas e as crueldades que praticamos, contrariando as Vossas leis. Que o
Perdão se instale em nosso coração, fazendo-nos mais sensíveis para perdoarmos
todo aquele que nutre o mal por nós.
Senhor! Dai-nos a Força da Fé quando os maus espíritos
vierem nos tentar. Livrai-nos dos maus pensamentos, pois queremos trilhar o
caminho do bem. Só Vós tendes o Poder de afastar da nossa existência os
espíritos impuros. Inspirai-nos, Senhor, a ouvir a Voz dos Anjos Guardiães e
dos Bons espíritos quando vêm nos alertar e nos assistir, para que não façamos mau
uso do nosso livre arbítrio. Ao finalizarmos esta prece, pedimos para todos a
Vossa Benção e a Vossa Paz.
***
Berenice cobre o rosto com as mãos num gesto de amor e de
gratidão e diz calmamente: “Estou curando minhas dores morais e sentimentais”.
E eu volto o olhar para o Alberto e digo: - Todos necessitam
curar-se e o amor é a mais Alta Razão que faz com que a consciência não se
limite ao plano físico, material da vida humana; mas que faça a sua escalada
com inteligência, utilizando a pura atividade especulativa do Espírito para
perceber que nessa caminhada íngreme há uma Luz que, divinamente mostra o mais
elevado grau do Amor Incondicional, que é a vereda segura para se chegar à
compreensão da vida espiritual unida ao Criador, - completamente indissolúvel e
universal. O maior exemplo que temos é o Cristo que desceu à Terra para provar
para os homens que a alma que neles habita, necessita descobrir-se a si mesa,
instruir-se moralmente evoluir para ver a Deus Pai, ver o Reino dos Céus, no
íntimo ser, experimentar essa realidade eterna, ter contato íntimo com ela.
Essa compreensão não é facultada a nenhum ser, porém ele
precisa crer que é capaz de ultrapassar as barreiras do egoísmo, do orgulho,
das vaidades, luxúrias, paixões mundanas, ódio e cobiça, - como é o caso do
Alberto e da Isis. No estágio em que se encontram estão caminhando com os olhos
vendados, parecem cegos andando sem nada ver à sua volta. O coração e o mundo
interior e a mente só podem compreender aquilo que se vive no externo, o que
pensa e o que sente que é do materialismo e do egocentrismo. Isso tudo
representa a falta de amor a Deus, visto que só experimentam os chamados do
egoísmo, das tentações dos espíritos impuros, da cegueira mental. Erguem em
suas vidas uma grande muralha, - de um lado o egoísmo trevoso, ostentando sua
falsa força e poder, do outro lado o Amor Todo Poderoso – Deus.
Do ponto de vista da Doutrina Espírita, o homem é livre para
escolher o caminho que quer percorrer; contudo, ele sofre muito mais se não
conhecer-se a si mesmo, ou seja, se ficar afastado de Deus e das leis Imutáveis
que regem os seus destinos. A existência terrena do homem é efêmera, mas a sua
alma é eterna; no entanto, ele não se coloca numa dimensão superior, não se
importa com o rumo para a perfeição, nunca está a caminho de si mesmo, porque
antes de mais nada, quer agir (com o instinto primitivo), como uma criancinha
que brinca de casinha, que dirige a vida como se estivesse pilotando o seu
carrinho de plástico, não compreendendo os perigos, pois sua mente trabalha
infantilmente e necessita de educação moral para que a consciência consiga
escalar passo a passo, a sua real importância para se desenvolver e poder
assumir o seu papel integral no amor e na prática das virtudes.
O homem “criancinha” deixará de brincar com a vida e passará
a usufruir dos benefícios do seu livre arbítrio, se optar pelo caminho do bem
que o conduzirá a Deus. No seu coração só habitará o amor que Jesus anunciou no
Sermão da Montanha: - “Bem-Aventurados os puros de coração porque verão a Deus”.
Em suas novas regras de vida, o homem não mais se deixará
levar pelas fantasias do egoísmo e do orgulho, pois ele já terá ultrapassado a
muralha, derrubando dentro de si, os maus condutores de suas ações. Estará renovado
e desejará “SER MAIS” do que “TER MAIS”.
A “O que é o mundo?
O mundo é falsa
percepção. Nasceu do erro e não deixou a sua fonte. Ele deixará de existir
quando o pensamento que lhe deu origem deixar de ser apreciado. Quando o
pensamento da separação for mudado para um pensamento de verdadeiro perdão, o
mundo será visto sob outra luz; uma luz que conduz à verdade, na qual o mundo
todo tem que desaparecer, assim como todos os seus erros têm que sumir. Agora a
sua fonte se foi e os seus efeitos também.
O mundo foi feito como um ataque a Deus. Ele simboliza o medo. E o que é
o medo senão ausência de amor? Assim, o mundo foi feito para ser um lugar em
que Deus não pudesse entrar e no qual o Seu Filho pudesse estar à parte Dele.
Aqui nasceu a percepção, pois o conhecimento não poderia causar tais
pensamentos insanos. Agora, os erros vêm a ser bastante possíveis, pois a
certeza se foi. Em seu lugar nasceram os
mecanismos da ilusão. E, agora, eles partem para achar o que lhes é dado
buscar. Seu objetivo é cumprir o propósito que o mundo foi feito para
testemunhar e fazer com que seja real. Eles veem nas suas ilusões apenas uma
base sólida onde a verdade existe, mantida à parte das mentiras. No entanto,
tudo o que transmitem é apenas ilusão, mantida à parte da verdade. Assim como a vista foi feita para conduzir
para longe da verdade, ela pode ser redirecionada. Os sons vêm a ser o chamado
de Deus e um novo propósito pode ser dado a toda percepção por Aquele Que Deus
designou como o Salvador do mundo. Segue a Sua Luz e vê o mundo tal como Ele o
contempla. Ouve apenas a Sua Voz em tudo o que fala contigo. E deixa-O dar-te a
paz e a certeza que jogaste fora, mas que o Céu preservou Nele para ti. Que não descansemos em nosso contentamento,
enquanto o mundo não tiver se unido à nossa percepção, que já foi mudada. Que
não estejamos satisfeitos, enquanto o perdão não tiver se tornado completo. E
não tentemos mudar a nossa função. Temos que salvar o mundo. Pois nós, que o
fizemos, temos que contemplá-lo através dos olhos de Cristo, para que o que foi
feito para morrer possa ser restituído à vida que dura para sempre.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony
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