terça-feira, 9 de agosto de 2016

O ENCONTRO DA ALMA COM DEUS


É experiência e doutrina de todos os Mestres Espirituais da Humanidade, que as grandes revelações ou inspirações que Deus faz a certos homens devam ser conservadas em segredo, para que não desmereçam. São como essências preciosas, que quando em recipiente aberto, se volatizam rapidamente.
“Não deis as coisas sacras aos cães, nem lanceis as vossas pérolas aos porcos”! ...
Na origem de toda a vida nova, entre os homens, colocou a natureza o instinto do pudor. O animal nada sabe de pudor; pratica os atos sexuais na mais ampla publicidade. Também a criança, antes de despertar o intelecto, ignora o que seja pudor; desnuda-se com toda a sem-cerimônia diante dos outros. Só o homem adulto e normal tem consciência de pudor e procura cercar de segredo e reverência  a origem da vida e os órgãos relacionados com esse ato. O senso de pudor é uma sentinela que a natureza colocou a entrada do santuário da vida.
A vida corporal é algo sagrado, divino. A vida espiritual é mais sagrada e divina ainda, e por isto deve estar envolta também em mistério, sobretudo a sua origem, ainda frágil e delicada.
O encontro da Alma humana com Deus é uma espécie de núpcias, como testificam todos os livros sacros da humanidade:  A alma “concebe” uma prole pela virtude do Altíssimo, fecundada pelo Verbo de Deus. E essas núpcias divino-humana devem ficar envoltas  em mistério e cercada de pudor. Aqui, a publicidade ou prostituição seria muito mais deletéria ainda do que no plano da profanação dos corpos. Tão grande é a sacralidade da vida espiritual que até a menor profanação equivale a um sacrilégio.
Por isto previne Jesus os seus discípulos para que não dem as coisas sacras aos cães, nem lancem suas pérolas aos porcos, “para que estes não lhes metam as patas e, voltando-se contra vós, vos dilacerem”.
Quando o homem espiritual revela, indiscriminadamente, aos profanos e imaturos as pérolas da sua experiência com Deus, o que acontece? Os profanos não compreendem tão profundo mistério, porque não possuem ainda órgão de recepção desenvolvida, e pior do que isto, não raro, compreendem às avessas as coisas sagradas, e, em vez de as acatar, delas escarnecem e as têm em conta de ilusão e de anormalidades. Para o profano o iniciado é um doente, um louco, um anormal.
Quando lançamos um punhado de pérolas preciosas a um porco, este, cuidando receber uma espiga de milho,  ou uma batata, avança sôfrego e mete-lhes as patas para as comer; mas logo depois, verificando o engano, se enfurece e revoltado com o ludíbrio, investe contra quem lhe deu apenas pérolas indigestas, em vez de umas batatas suculentas.
Que valor tem para o profano uma hora de meditação espiritual, ou uns momentos de fervoroso colóquio com Deus?  Que valor dá  ele ao conhecimento de si mesmo, ao estudo dos livros sacros ou à instituição mística da suprema realidade? Essas pérolas são para ele coisas que não têm sabor, fastidiosas, indigestas – se ao menos fosse um punhado de notas de banco, uma noitada de orgias sexuais, ou a eleição para um rendoso cargo público!... Essas coisas, sim têm valor para ele, porque satisfazem a fome de seu ego humano, ao passo que aquelas outras que se referem aos anseios do Eu Divino são, ara o profano, desagradáveis e absurdas. É que cada um pensa e age conforme a medida do seu ego ou da sua ignorância.
Por isto, o Mestre Espiritual, sensato não revela indistintamente aos  outros o que Deus lhe revelou. Mede cuidadosamente a capacidade de cada um... sabe  quais são os avançados, e quais, são os atrasados, os esotéricos e os exotéricos...  Fala muitas vezes, em parábolas e alegorias, para que cada um interprete os símbolos materiais segundo a sua capacidade evolutiva e perceba do simbolismo espiritual precisamente aquilo que corresponde ao estado atual da sua evolução.
“Aqueles  dentre vós que ainda são infantes em Cristo – escreve São Paulo aos Coríntios – dei-lhes leite para beber; mas aos que são adultos em Cristo, dei-lhes comida sólida”.
“O Mestre versado nas coisas do Reino de Deus – diz Jesus – tira do tesouro do seu coração coisas velhas e coisas novas. Muitos sabem assimilar as “coisas velhas”, da tradição secular, sabem andar com segurança nos caminhos batidos do passado, por onde milhares  e milhões transitam – poucos sabem se aproveitar das “coisas novas” da evolução espiritual, poucos sabem se orientar nas direções obscuras e estreitas da experiência mística, por onde pouquíssimos passam, em solidão e silêncio...
A  verdade é alimento para uns – e veneno para outros...
Por isto, o Mestre do reino de Deus deve saber dosar judiciosamente as verdades que transmite a seus discípulos, para que as “coisas sacras” e as “pérolas” cheguem às almas daqueles que são idôneos e de as  receber e assimilar.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony


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