É experiência e doutrina de todos os Mestres Espirituais da
Humanidade, que as grandes revelações ou inspirações que Deus faz a certos
homens devam ser conservadas em segredo, para que não desmereçam. São como
essências preciosas, que quando em recipiente aberto, se volatizam rapidamente.
“Não deis as coisas sacras aos cães, nem lanceis as vossas
pérolas aos porcos”! ...
Na origem de toda a vida nova, entre os homens, colocou a
natureza o instinto do pudor. O animal nada sabe de pudor; pratica os atos
sexuais na mais ampla publicidade. Também a criança, antes de despertar o
intelecto, ignora o que seja pudor; desnuda-se com toda a sem-cerimônia diante
dos outros. Só o homem adulto e normal tem consciência de pudor e procura
cercar de segredo e reverência a origem
da vida e os órgãos relacionados com esse ato. O senso de pudor é uma sentinela
que a natureza colocou a entrada do santuário da vida.
A vida corporal é algo sagrado, divino. A vida espiritual é
mais sagrada e divina ainda, e por isto deve estar envolta também em mistério,
sobretudo a sua origem, ainda frágil e delicada.
O encontro da Alma humana com Deus é uma espécie de núpcias,
como testificam todos os livros sacros da humanidade: A alma “concebe” uma prole pela virtude do
Altíssimo, fecundada pelo Verbo de Deus. E essas núpcias divino-humana devem
ficar envoltas em mistério e cercada de
pudor. Aqui, a publicidade ou prostituição seria muito mais deletéria ainda do
que no plano da profanação dos corpos. Tão grande é a sacralidade da vida
espiritual que até a menor profanação equivale a um sacrilégio.
Por isto previne Jesus os seus discípulos para que não dem
as coisas sacras aos cães, nem lancem suas pérolas aos porcos, “para que estes
não lhes metam as patas e, voltando-se contra vós, vos dilacerem”.
Quando o homem espiritual revela, indiscriminadamente, aos
profanos e imaturos as pérolas da sua experiência com Deus, o que acontece? Os
profanos não compreendem tão profundo mistério, porque não possuem ainda órgão
de recepção desenvolvida, e pior do que isto, não raro, compreendem às avessas
as coisas sagradas, e, em vez de as acatar, delas escarnecem e as têm em conta
de ilusão e de anormalidades. Para o profano o iniciado é um doente, um louco,
um anormal.
Quando lançamos um punhado de pérolas preciosas a um porco,
este, cuidando receber uma espiga de milho, ou uma batata, avança sôfrego e mete-lhes as
patas para as comer; mas logo depois, verificando o engano, se enfurece e
revoltado com o ludíbrio, investe contra quem lhe deu apenas pérolas
indigestas, em vez de umas batatas suculentas.
Que valor tem para o profano uma hora de meditação
espiritual, ou uns momentos de fervoroso colóquio com Deus? Que valor dá ele ao conhecimento de si mesmo, ao estudo dos
livros sacros ou à instituição mística da suprema realidade? Essas pérolas são
para ele coisas que não têm sabor, fastidiosas, indigestas – se ao menos fosse
um punhado de notas de banco, uma noitada de orgias sexuais, ou a eleição para
um rendoso cargo público!... Essas coisas, sim têm valor para ele, porque
satisfazem a fome de seu ego humano, ao passo que aquelas outras que se referem
aos anseios do Eu Divino são, ara o profano, desagradáveis e absurdas. É que
cada um pensa e age conforme a medida do seu ego ou da sua ignorância.
Por isto, o Mestre Espiritual, sensato não revela
indistintamente aos outros o que Deus
lhe revelou. Mede cuidadosamente a capacidade de cada um... sabe quais são os avançados, e quais, são os
atrasados, os esotéricos e os exotéricos...
Fala muitas vezes, em parábolas e alegorias, para que cada um interprete
os símbolos materiais segundo a sua capacidade evolutiva e perceba do
simbolismo espiritual precisamente aquilo que corresponde ao estado atual da
sua evolução.
“Aqueles dentre vós
que ainda são infantes em Cristo – escreve São Paulo aos Coríntios – dei-lhes
leite para beber; mas aos que são adultos em Cristo, dei-lhes comida sólida”.
“O Mestre versado nas coisas do Reino de Deus – diz Jesus –
tira do tesouro do seu coração coisas velhas e coisas novas. Muitos sabem
assimilar as “coisas velhas”, da tradição secular, sabem andar com segurança
nos caminhos batidos do passado, por onde milhares e milhões transitam – poucos sabem se
aproveitar das “coisas novas” da evolução espiritual, poucos sabem se orientar
nas direções obscuras e estreitas da experiência mística, por onde pouquíssimos
passam, em solidão e silêncio...
A verdade é alimento
para uns – e veneno para outros...
Por isto, o Mestre do reino de Deus deve saber dosar
judiciosamente as verdades que transmite a seus discípulos, para que as “coisas
sacras” e as “pérolas” cheguem às almas daqueles que são idôneos e de as receber e assimilar.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony
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