É opinião
bastante comum entre os inexperientes que o ser humano espiritual deva evitar a
publicidade e procurar o mais possível a obscuridade da solidão e do anonimato,
a fim de não perder a sua sacralidade e cair vítima da profanidade. E, de fato,
essa solidão e esse anonimato são necessários, embora num sentido diferente
daquele que os profanos supõem. O ego físico - mental do ser humano comum deve
desaparecer no anonimato, e o seu EU DIVINO deve viver em profunda solidão.
O homem
espiritual deve ser profundamente solitário com Deus, para que possa ser
vastamente solitário com todas as criaturas de Deus: assim não há perigo de
profanação.
Ai daquele
que perder a sua silenciosa sacralidade em Deus! De nada lhe servirá a sua
ruidosa sociabilidade com os homens e o mundo.
Em suas
relações com Deus é todo ser humano profundamente só e solitário; ninguém o
pode acompanhar a essas alturas e profundezas, envoltas em eterno silêncio. Ninguém
poderá saber jamais o que se passa entre a Alma e Deus, nas silenciosas alturas
do Himalaia ou na taciturna vastidão do Saara onde se dá esse encontro entre
Deus e a Alma humana.
A experiência
mística se dá para além das barreiras do tempo e do espaço, no anonimato do “terceiro
céu”, e por isto é essencialmente intransferível e incomunicável; o que é dito
à alma, nessa luminosa escuridão, são “ditos indivisíveis”.
Essa solidão
vertical é necessária e não pode jamais ser substituída pela sociedade
horizontal. Esse santuário íntimo do ser humano é indevassável; nem as relações
mais íntimas, de pai e filho, de mãe e filha, de esposo e esposa, de amigo a
amigo, de irmão e irmã, podem desvendar esse mistério. Onde não existe e
persiste essa solidão cósmica, esse profundo silêncio metafísico, esse
indevassável anonimato místico entre a alma e Deus, toda a publicidade é um
perigo e uma profanação, é uma deserção da Fé e portanto, uma infidelidade cometida
contra a sacralidade do EU DIVINO. O ser humano que não possua suficiente fidelidade
a seu EU DIVINO não deve arriscar-se à publicidade; não deve colocar-se no alto
do candelabro ou no cume do monte; é preferível que fique debaixo do alqueire
ou no fundo do vale, onde não há perigo de quedas catastróficas. Quanto mais
alto o ser humano está, mais profundamente poderá cair, se essa altura lhe der
vertigens.
O perigo da
vertigem vem da ilusão de que essa sublime posição seja obra do seu ego
personal, vem do erro fatal de que a criatura humana tenha criado essa glória
no alto do candelabro ou no cume do monte. Duas vezes, diz um grande iniciado o
oriental Brahman, se sorri do homem, da primeira vez, quando o homem afirma: “Eu
faço isto, eu faço aquilo”, e da segunda vez quando o homem diz: “Eu vou morrer”.
Ambas, o
homem confunde o seu verdadeiro Eu com o seu pseudo-EU.
Quando o
homem pensa que é ele – seu ego personal
– que faz isto ou aquilo, e não o “Pai dos Céus” – o seu EU DIVINO: quando o
homem pensa que o seu eterno e imortal EU DIVINO vai morrer – então se revela
totalmente analfabeto no conhecimento de si mesmo.
Onde há
ilusão há possibilidade de queda. Só quando a totalidade da ilusão cedeu à
totalidade da verdade é que há segurança absoluta.
Tem-se dito
que a experiência mística torna o homem orgulhoso e desprezador de seus
semelhantes, os orgulhosos e desprezador de seus semelhantes, os “profanos” lá
embaixo. Quem assim pensa e fala não sabe o que quer dizer experiência mística.
Esse orgulho
é possível no caso da pseudo-mística, quando o homem atribui a sua
espiritualidade ao mérito de seu ego personal, ignorando que “todo o dom
perfeito vem de cima, do Pai das Luzes”, e que a iluminação espiritual é obra
da graça divina. Mas ninguém pode orgulhar-se daquilo que é Deus, só se pode
envaidecer de algo que seja do seu ego.
A “SENTINELA
DA EVOLUÇÃO HUMANA” – POR LUÍZA CONY
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