sábado, 7 de outubro de 2017

SER COMO AS CRIANÇAS – PARTE I


Um dia, quando estavam em Cafarnaum, os discípulos perguntaram a Jesus: “Quem  é o maior no Reino de Deus?
E Jesus chamou uma criança e colocou-a diante deles; e,  tomando-a em seus braços disse: “Em verdade eu te digo, a menos que voltes e passes a ser como as crianças, não poderás entrar no reino de Deus”.
A menos que voltes para Deus. Para o jardim. Ao seu original. E passes a ser como as crianças.
Aquele que está em harmonia com Deus, é como um bebê recém  nascido. Seus ossos são maleáveis, seus músculos fracos, sua mão, porém, agarra com força. Ele nada sabe sobre a união de homens e mulheres.
Ele pode berrar a plenos pulmões um dia todo, e no  entanto, sua voz nunca fica rouca; tão completa é a sua harmonia.
Assim é o poder do Mestre. A tudo Ele deixa vir e ir, sem esforço, sem desejo.
Nunca espera resultados, portanto, nunca se desaponta; portanto, o seu espírito nunca envelhece.
E um Mestre chinês acrescenta: O bebê chora o dia todo sem forçar a sua garganta. Cerra o punho o dia todo sem causar cãimbras em sua mão. Conserva um olhar atento o dia todo sem fatigar seus olhos. Livre de todas as preocupações, inconsciente de si mesmo, age sem pensar, não sabe porque  as coisas acontecem, nem precisa saber.
                                               ***
Este modo de existir em nosso corpo, nosso lar original, em harmonia com o mundo todo, ainda está presente dentro de nós. Quem não se emociona com o louvor de  um  outro mestre a este estado?
Com certeza, Adão no paraíso não tinha do mundo percepções mais doces e curiosas do que eu quando criança. Tudo parecia novo, e estranho a princípio, indescritivelmente raro, encantador e belo. Eu era um pequeno estranho que, em sua entrada no mundo, foi saudado e cercado por inúmeras alegrias. Meu conhecimento era divino, sabia por intuição essas coisas que, desde minha apostasia, fui compreendendo  novamente, por meio da mais alta razão. Minha própria ignorância era vantajosa. Eu parecia alguém que fora trazido ao estado de inocência. Tudo era perfeito, puro, glorioso: sim, e infinitamente meu, e prazeroso e precioso. Não sabia que existiam pecados, queixas ou leis. Sequer sonhava com pobrezas, disputas ou vícios. Todas  as lágrimas mantinham-se ocultas de meus olhos. Tudo era tranquilo, livre e imortal. Eu nada sabia sobre doença ou morte, ou exação, e, na ausência destas, ficava entretido como um anjo com as obras de Deus em seu esplendor e glória; via a tudo na paz do Éden; céu e terra cantavam louvores ao meu Criador, e não podiam ser mais melodiosas para Adão do que para mim. Todo o tempo era a eternidade.
Não é estranho que um bebê seja o herdeiro do mundo e conheça estes mistérios que os livros dos eruditos nunca revelam?
O milho era radiante, trigo imortal, que jamais deveria ser arrancado, nem tampouco fora, algum dia plantado. Eu pensava que ele existia desde sempre e para sempre.
A poeira e as pedras da rua eram tão preciosas quanto o ouro. Os portões era a princípio o fim do mundo. As árvores verdes, quando as vi pela primeira vez através de um dos portões, me transportaram e extasiaram; sua doçura e beleza incomum fizeram meu coração disparar e quase enlouquecer de êxtase pois  eram coisas infinitamente estranhas e maravilhosas.
A eternidade se manifestava na luz do dia, e algo infinito aparecia por trás de todas as coisas: algo que falava à minha expectativa e movia o meu desejo. A cidade parecia estar localizada no Éden, ou construída no Céu. As ruas eram minhas, o templo era meu, as pessoas eram minhas, suas roupas, seu ouro e sua prata eram meus, tanto quanto os seus olhos reluzentes, pele clara e rostos corados. Os céus eram meus, e também o sol, a luz e as estrelas, e o mundo todo era meu, e eu, o único espectador e degustador daquilo tudo. Desconhecia a mesquinhez das propriedades, das fronteiras, das divisões: todas as propriedades e divisões eram minhas. Todos os tesouros e os possuidores dos tesouros. De modo que com  muito trabalho eu fui corrompido; e posto a aprender os negócios sujos deste mundo. Os quais eu agora desaprendo e fico como se fosse uma criancinha novamente, para que possa entrar no Reino de Deus.
                                                           ***
E quando Jesus deixou a Galileia e penetrou no território da Judéia – multidões imensas reuniam-se ao seu redor, e Ele curava e ensinava. E algumas pessoas levavam as crianças até Ele, para que as abençoasse; mas os discípulos as repreendiam. E quando Jesus viu isto, ficou indignado e lhes disse: “Deixai  que as crianças venham até mim, não as tenteis impedir; pois o REINO DE DEUS pertence a seres como estes. Em verdade eu vos digo, aquele que não recebe como uma criança o Reino de Deus não poderá entrar nele”.
A “VARINHA MÁGICA” DE LUÍZA CONY



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