Um dia,
quando estavam em Cafarnaum, os discípulos perguntaram a Jesus: “Quem é o maior no Reino de Deus?
E Jesus
chamou uma criança e colocou-a diante deles; e, tomando-a em seus braços disse: “Em verdade eu
te digo, a menos que voltes e passes a ser como as crianças, não poderás entrar
no reino de Deus”.
A menos que
voltes para Deus. Para o jardim. Ao seu original. E passes a ser como as
crianças.
Aquele que
está em harmonia com Deus, é como um bebê recém nascido. Seus ossos são maleáveis, seus
músculos fracos, sua mão, porém, agarra com força. Ele nada sabe sobre a união
de homens e mulheres.
Ele pode
berrar a plenos pulmões um dia todo, e no entanto, sua voz nunca fica rouca; tão
completa é a sua harmonia.
Assim é o
poder do Mestre. A tudo Ele deixa vir e ir, sem esforço, sem desejo.
Nunca espera
resultados, portanto, nunca se desaponta; portanto, o seu espírito nunca
envelhece.
E um Mestre
chinês acrescenta: O bebê chora o dia todo sem forçar a sua garganta. Cerra o
punho o dia todo sem causar cãimbras em sua mão. Conserva um olhar atento o dia
todo sem fatigar seus olhos. Livre de todas as preocupações, inconsciente de si
mesmo, age sem pensar, não sabe porque as
coisas acontecem, nem precisa saber.
***
Este modo de
existir em nosso corpo, nosso lar original, em harmonia com o mundo todo, ainda
está presente dentro de nós. Quem não se emociona com o louvor de um
outro mestre a este estado?
Com certeza,
Adão no paraíso não tinha do mundo percepções mais doces e curiosas do que eu
quando criança. Tudo parecia novo, e estranho a princípio, indescritivelmente
raro, encantador e belo. Eu era um pequeno estranho que, em sua entrada no
mundo, foi saudado e cercado por inúmeras alegrias. Meu conhecimento era
divino, sabia por intuição essas coisas que, desde minha apostasia, fui
compreendendo novamente, por meio da
mais alta razão. Minha própria ignorância era vantajosa. Eu parecia alguém que
fora trazido ao estado de inocência. Tudo era perfeito, puro, glorioso: sim, e
infinitamente meu, e prazeroso e precioso. Não sabia que existiam pecados,
queixas ou leis. Sequer sonhava com pobrezas, disputas ou vícios. Todas as lágrimas mantinham-se ocultas de meus
olhos. Tudo era tranquilo, livre e imortal. Eu nada sabia sobre doença ou
morte, ou exação, e, na ausência destas, ficava entretido como um anjo com as
obras de Deus em seu esplendor e glória; via a tudo na paz do Éden; céu e terra
cantavam louvores ao meu Criador, e não podiam ser mais melodiosas para Adão do
que para mim. Todo o tempo era a eternidade.
Não é
estranho que um bebê seja o herdeiro do mundo e conheça estes mistérios que os
livros dos eruditos nunca revelam?
O milho era
radiante, trigo imortal, que jamais deveria ser arrancado, nem tampouco fora,
algum dia plantado. Eu pensava que ele existia desde sempre e para sempre.
A poeira e
as pedras da rua eram tão preciosas quanto o ouro. Os portões era a princípio o
fim do mundo. As árvores verdes, quando as vi pela primeira vez através de um
dos portões, me transportaram e extasiaram; sua doçura e beleza incomum fizeram
meu coração disparar e quase enlouquecer de êxtase pois eram coisas infinitamente estranhas e
maravilhosas.
A eternidade
se manifestava na luz do dia, e algo infinito aparecia por trás de todas as coisas:
algo que falava à minha expectativa e movia o meu desejo. A cidade parecia
estar localizada no Éden, ou construída no Céu. As ruas eram minhas, o templo
era meu, as pessoas eram minhas, suas roupas, seu ouro e sua prata eram meus,
tanto quanto os seus olhos reluzentes, pele clara e rostos corados. Os céus
eram meus, e também o sol, a luz e as estrelas, e o mundo todo era meu, e eu, o
único espectador e degustador daquilo tudo. Desconhecia a mesquinhez das
propriedades, das fronteiras, das divisões: todas as propriedades e divisões
eram minhas. Todos os tesouros e os possuidores dos tesouros. De modo que
com muito trabalho eu fui corrompido; e
posto a aprender os negócios sujos deste mundo. Os quais eu agora desaprendo e
fico como se fosse uma criancinha novamente, para que possa entrar no Reino de
Deus.
***
E quando
Jesus deixou a Galileia e penetrou no território da Judéia – multidões imensas
reuniam-se ao seu redor, e Ele curava e ensinava. E algumas pessoas levavam as
crianças até Ele, para que as abençoasse; mas os discípulos as repreendiam. E
quando Jesus viu isto, ficou indignado e lhes disse: “Deixai que as crianças venham até mim, não as tenteis
impedir; pois o REINO DE DEUS pertence a seres como estes. Em verdade eu vos
digo, aquele que não recebe como uma criança o Reino de Deus não poderá entrar
nele”.
A “VARINHA
MÁGICA” DE LUÍZA CONY
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