Certo dia, regressaram os discípulos de Jesus de uma
excursão apostólica e referiram ao mestre, cheios de jubiloso entusiasmo, que
os próprios demônios lhes estavam sujeitos. O Mestre, porém, replicou
calmamente: “Não vos alegreis pelo fato de que os demônios vos estão sujeitos;
alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no livro da vida eterna”.
Com outras palavras: O alvo principal do apostolado não está nos resultados
visíveis da atividade externa, mas sim na invisível realidade da santidade
interna. – SER É MAIS IMPORTANTE QUE FAZER.
Até os dias atuais são em mais numerosos os homens que põem
maior ênfase nas atividades externas do que na atitude interna; dificilmente
compreendem que esta é a mais importante do que aquelas.
A atividade social não tem valor autônomo em si mesma, se
não brotar da atividade mística do homem. Pouco importa, e muitíssimo, é o que
o homem é. Podem os trabalhos de Maria ser bons e louváveis em si mesmos, mas
se não forem o natural eflúvio e a
manifestação espontânea da atitude interna de Maria são outros tantos
zeros, pequenos e grandes, cuja soma ou produto será igual a zero.
1 – Essas atividades, facilmente, embalam seu autor numa
falsa segurança, criando nele uma complacente auto suficiência, em face dos
resultados colhidos, impedindo-o de passar para além daquilo que já realizou,
ou julga ter realizado. Essa suave
autoilusao e complacente suficiência é o maior desastre espiritual para o homem
externamente ativo e internamente passivo, porque o faz entrar numa zona de
estagnação espiritual. Ai do homem plenamente satisfeito com seus trabalhos
externos!
O único fator que pode preludiar a sua redenção é uma
profunda insatisfação consigo mesmo – incomparavelmente mais importante que os
mais gloriosos trabalhos no plano horizontal é a intensificação do ser
vertical. Pouco vale o fazer, o dizer e o ter no mundo dos objetivos
quantitativos, se no mundo do sujeito qualitativo não existir um profundo ser.
2 – O segundo perigo está em que esse homem exteriorizado
julgue influir sobre seus semelhantes com o que faz e diz – quando é impossível
promover a verdadeira conversão de outrem se eu mesmo não sou um genuíno e autêntico
convertido, isto é, um homem intimamente unido a Deus. Só o meu Ser é que pode influir
sobre o ser de outros; mas se o meu Ser é fraco não poderia dar força aos
fracos. Só um poderoso positivo é que pode atuar sobre os negativos em
derredor! Se eu mesmo não for 100% positivo, por uma intensa e profunda experiência
de Deus, não poderei exercer influência real sobre os outros, igualmente
negativos. Podem os meus ouvintes ou leitores admirar-me, sim, e aplaudir-me;
mas não se sentirão com forças para abandonarem o mundo noturno das suas
misérias morais e entrar no mundo diurno da virtude e santidade, porque não
veem esse mundo concretizado em minha pessoa. E mesmo no caso favorável que
julgassem esse mundo divino realizado em mim, não se converteriam realmente a
Deus, pois não são as aparências que atuam, mas sim a realidade, realidade
essa, que, nesse caso, estaria ausente em mim. Posso sim, dizer mil vezes, com
grande eloquência, que esse mundo do
espírito é grandioso e belo, e os leitores e ouvintes, na melhor das hipóteses
crerão nas minhas palavras – mas do Crer ao Ser vai distância enorme.
Crer – é uma teoria longínqua e vaga – Ser – é uma realidade
propínqua e forte. É dificílima a transição do Crer para o Ser, e se ninguém
vir esse ser concretizado numa pessoa humana, dificilmente passará a encarnar o
seu longínquo Crer num propínquo Ser, isto é, não se converterá porque não me
convertido. O convertido é aquele que pode, em verdade dizer: “Eu e o Pai somos
um”. Já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim”.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony
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