O Espiritismo vem, pois, ao seu tempo, fazer o que cada
Ciência faz em seu advento: revelar novas Leis e explicar, por consequência, os
fenômenos que são da alçada dessas Leis.
Esses fenômenos, é verdade, se prendem à existência dos
Espíritos e à sua intervenção no mundo material, ora, ai está, diz-se o que é o
sobrenatural. Mas então seria necessário provar que os Espíritos, e as suas
manifestações, são contrários às Leis da natureza; que isso não é, e não pode
ai estar uma dessas Leis.
O Espírito não é outro senão a alma que sobrevive ao corpo;
é o ser principal uma vez que não morre, ao passo que o corpo não é senão um
acessório que se destrói. Sua existência é, pois, tudo tão natural depois como
durante a encarnação; ela está submetida às Leis que regem o princípio
espiritual, como o corpo está submetido às que regem o princípio material; mas
como estes dois princípios têm uma afinidade necessária, que regem incessantemente
um sobre o outro, que, de sua ação simultânea do conjunto, segue-se que a
espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão
naturais uma quanto a outra, e que a primeira não é uma exceção, uma anomalia
na ordem das coisas.
Durante sua encarnação, o Espírito atua sobre a matéria por
intermédio de seu corpo fluídico ou períspirito; ocorre o mesmo fora da
encarnação. Ele faz, como Espírito e na medida de suas capacidades, o que fazia
como homem; como ele não tem mais seu corpo carnal por instrumento, somente se
serve dos órgãos materiais de um encarnado, que se torna o que se chama de
médium. Ele faz como aquele que, não podendo ele mesmo escrever, toma
emprestada a mão de um secretário; ou que, não sabendo uma língua, serve-se de
um intérprete. Um secretário, um intérprete são os médiuns de um encarnado,
como o médium é o secretário ou intérprete de um Espírito.
O meio no qual agem os Espíritos, e os meios de execução não
sendo os mesmos que no estado de encarnação, os efeitos são diferentes. Esses efeitos
não parecem sobrenaturais senão porque são produzidos com a ajuda de agentes
que não são os dos que nos servimos; mas desde o instante em que esses agentes
estão em a Natureza, e que os fatos das manifestações se cumprem em virtude de
certas leis, nada há de sobrenatural nem de maravilhoso. Antes de conhecer as
propriedades da eletricidade, os fenômenos elétricos passavam por prodígios aos
olhos de certas pessoas. Desde que a causa foi conhecida, o maravilhoso
desapareceu. Ocorre o mesmo com os fenômenos Espíritas, que não saem mais da ordem
das Leis Naturais que os fenômenos elétricos, acústicos, luminosos e outros,
que foram a fonte de uma multidão de crenças supersticiosas.
Todavia, dir-se-á, admitis que um Espírito pode levantar uma
mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio; isso não é uma anulação da Lei da
Gravidade? – Sim, da Lei conhecida; mas se conhecem todas as Leis? Antes que se
tivesse experimentado a força ascensional de certos gases, quem diria que uma
pesada máquina, levando vários homens, poderia vencer a força de atração? Aos
olhos do vulgo, isso não deveria parecer maravilhoso, diabólico? Aquele que
propusesse, há mais de um século, transmitir um despacho a quinhentas léguas, e
receber sua resposta em alguns minutos, teria passado por um louco; se o fizesse,
crer-se-ia que tinha o diabo às usas ordens, porque então, só o diabo era capaz
de andar tão depressa; entretanto, hoje, a coisa é não somente reconhecida
possível, mas parece naturalíssima. Por que, pois, um fluido desconhecido não
teria a propriedade, em circunstâncias dadas, de contrabalançar o efeito da
gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso do balão? Foi, com efeito, o
que ocorreu no caso do qual se trata.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony
Nenhum comentário:
Postar um comentário