quinta-feira, 28 de julho de 2016

OS PODERES MÁGICOS DAS MÃOS E A RELIGIÃO


O passe nasceu nas civilizações da selva como um elemento da magia selvagem, um rito das crenças primitivas. A agilidade das mãos em fazer e desfazer as coisas sugeria a existência, nelas, de poderes misteriosos, praticamente comprovados pelas ações cotidianas da fricção que acalmava a dor, da pressão dos dedos estancando o sangue ou expulsando um espinho ou o ferrão de uma vespa ou o veneno de uma cobra. Os poderes mágicos das mãos se confirmavam também em fazer pedidos aos deuses, que eram simplesmente os espíritos. As bênçãos e as maldições foram as primeiras manifestações típicas dos passes.
O selvagem primitivo não teorizava, mas experimentava instintivamente e aprendia a fazer e desfazer com o poder das mãos. Os deuses (os espíritos) auxiliavam, socorriam, instruíam em suas manifestações mediúnicas naturais. A sensibilidade mediúnica aprimorava-se nas criaturas mais sensíveis e assim surgiram os pajés, os feiticeiros, os xamãs, os mágicos terapeutas, curadores.
A descoberta do passe acompanhava e auxiliava o desenvolvimento do rito, da linguagem e da descoberta de instrumentos que aumentavam o poder das mãos. Podemos imaginar, com o fez André Lang, um homem primitivo olhando intrigado o emaranhado de riscos da palma de sua mão, sem a mínima ideia do que aquilo poderia significar. Seus descendentes iriam admitir, mais tarde, que ali estavam traçados dos destinos de cada criatura.
O mistério da mão humana foi um elemento essencial do desenvolvimento da inteligência e especialmente da descoberta lenta e progressiva, pelo homem, dos seus poderes internos. Dos tempos primitivos até os nossos dias, a mão é o símbolo do fazer que nos leva ao saber. Enquanto a lua, o sol, as estrelas atraíam os homens para os mistérios do cosmos, a mão os levava a mergulhar nas profundezas da natureza humana.
Dessa dialética do interior e do exterior nasceram a Magia e a Religião. A Magia é a prática, nasceu das mãos e funciona através delas. A Religião é teórica, nasceu dos olhos, da visão abstrata do mundo e funciona no plano das ideias.
Na Magia, os homens submetem os deuses (espíritos) ao poder humano, obrigam a Divindade a obedecê-los, a fazer por eles.
Na Religião, os homens se submetem aos deuses, suplicam a proteção da Divindade. Mas, apesar dessa distinção, as Religiões não se livraram dos resíduos primitivos das fórmulas mágicas. Todas as Igrejas da atualidade, mesmo após as reformas recentes, apegam-se no fazer dos mágicos através de seus sacramentos da Eucaristia, na Igreja Católica, pelo qual o sacerdote obriga Deus a materializar-se nas espécies da hóstia, para que o crente possa absorvê-lo e purificar-se com sua ingestão.
No Espiritismo os resíduos mágicos não podiam existir, pois se trata de uma Doutrina Racionalista, mas o grande número de adeptos provindos dos meios religiosos, sem a formação filosófica e científica da Doutrina, carregam esses resíduos para o nosso meio, numa tentativa de padronização de práticas espíritas e de transformação dos passes num fazer dos médiuns e não dos Espíritos.
É tipicamente mágica a atitude do médium que pretende, com sua ginástica, limpar a aura de uma pessoa ou limpar uma casa. As tentativas de cura através desses bailados mediúnicos revela a confiança mágica no rito que pratica. Por isso Jesus ensinou simplesmente a imposição das mãos acompanhada da oração silenciosa. As orações em voz alta e em conjunto é também um resíduo mágico, pelo qual se tenta obrigar a Deus ou aos Espíritos a atenderem os clamores humanos.
A Religião Racional e, portanto consciente baseia-se na fé esclarecida pela razão, que não comporta de maneira alguma essas e outras práticas formais e carregadas de Misticismo Igrejeiro.
A “Varinha Mágica” de Luíza Cony

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