quinta-feira, 28 de julho de 2016

OS MILAGRES NO SENTIDO TEOLÓGICO


Em sua acepção etimológica, a palavra milagre (de mirari, admirar), significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente. A academia define esta palavra: - Um ato de poder divino contrário às leis conhecidas da natureza.
Em sua acepção usual, esta palavra perdeu como tantas outras, o seu significado primitivo. De geral que era, ela se restringe a uma ordem particular de fatos. No pensamento das massas, um milagre implica a ideia de um fato sobrenatural; no sentido teológico, é uma alteração essencial das Leis da Natureza, pelas quais Deus manifesta o seu poder. Tal é, com efeito, a acepção vulgar, tornada o sentido próprio, e não é senão por comparação e por metáfora que ele é aplicado às circunstâncias comuns da vida.
Um dos caracteres do milagre, propriamente dito, é o de ser inexplicável, por isso mesmo que se cumpre fora das Leis Naturais; e é de tal modo a ideia que se lhe liga que, se um fato miraculoso vem a encontrar a sua explicação, diz-se que não é mais um milagre, por surpreendente que seja. O que faz, para a Igreja, o mérito dos milagres é precisamente a sua origem sobrenatural, e a impossibilidade de explica-los; ela está tão bem fixada sobre este ponto que toda assimilação dos milagres aos fenômenos da Natureza é taxada de heresia, de atentado contra a Fé: que ela excomungou, e mesmo queimou pessoas que não quiseram crer em certos milagres.
Um outro caráter do milagre é o de ser extraordinário, isolado e excepcional; do momento que um fenômeno se reproduz, seja espontaneamente, seja por um ato da vontade, é que ele está submetido a uma Lei, e, desde então, que essa lei seja conhecida ou não, isso não pode ser milagre.
Todos os dias a Ciência faz milagres aos olhos dos ignorantes. Que um homem verdadeiramente morto seja chamado à vida por uma intervenção Divina, e ai está um verdadeiro milagre, porque esse é um fato contrário às Leis da Natureza. Mas se esse homem não tem as aparências da morte, e se há nele ainda um resto de vitalidade latente, e que a ciência, ou uma ação magnética, venha a reanima-lo, para as pessoas esclarecidas é um fenômeno natural, mas aos olhos do vulgo ignorante, o fato passará por miraculoso. Que no meio de certos camponeses um físico lance um papagaio elétrico e faça cair o raio sobre uma árvore, esse novo PROMETEU será certamente olhado como armado de um poder diabólico; mas, Josué detendo o movimento do Sol, ou antes, da Terra, em admitindo o fato, eis o verdadeiro milagre, porque não existe nenhum magnetizador dotado de um tão grande poder para operar tal prodígio.
Os séculos de ignorância foram fecundos em milagres porque tudo cuja causa era desconhecida passava por sobrenatural. À medida que a ciência revelou novas leis, o círculo do maravilhoso foi restringido; mas como não havia explorado todo o campo da natureza, restava ainda uma parte bastante grande ao maravilhoso.
O maravilhoso, expulso do domínio da materialidade pela Ciência, entrincheirou-se no da espiritualidade, que foi o seu último refúgio.
O Espiritismo, em demonstrando que o elemento espiritual é uma das forças vivas da Natureza, força, incessantemente agindo concorrentemente com a força material, fez de novo entrar os fenômenos que dela ressaltam no círculo dos efeitos naturais, porque, como os outros, estão submetidos a Leis.
Se o maravilhoso foi expulso da espiritualidade, não tem mais razão de ser, e é então somente que se poderá dizer que passou o tempo dos Milagres.

A “Varinha Mágica” de Luíza Cony

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