Jesus era o
legislador perfeito reflexo da Lei de Deus, e como tal, exclamou diante da
mulher adúltera: “Vai e não peques mais”, deste modo, ele procurou cumprir a
verdade da Lei divina, que atua como corretivo, mas não punitivo, pois ela é
justa e cria, jamais destrói. E, ainda, em correspondência à vibração cósmica,
que restabelece toda harmonia, Jesus fez advertência severa aos perseguidores
da pecadora e os chamou à ordem, uma vez que projetavam na infeliz os próprios
erros e recalques humanos. Quando então lhes disse: “Quem não tiver pecado,
atire a primeira pedra”, colocou a descoberto todos os vícios e paixões
humanas, conclamando aqueles falsos virtuosos a uma correção íntima, convencendo-os
de que embora a lei humana mandasse lapidar as mulheres adúlteras, isso só poderia ser executado pelas
criaturas que não tivessem nenhum pecado.
Em verdade,
através de Jesus, refletiam-se tanto quanto possível as Leis Divinas, que
corrigem excessos, distorções e desvios do conjunto de transformações da vida
e, magnificamente, resumidas no Evangelho, ali se demonstravam na reforma de
conceitos, máximas, parábolas e princípios, que devem reajustar a iluminação
humana.
***
A atitude
mais certa perante Deus ainda é a de “amar o próximo como a si mesmo”, quer
mereça ou não. Em qualquer circunstância da vida terrena a indiferença diante
da dor e do profundo sofrimento alheio é sinal de crueldade, mesmo quando temos
convicção de que o próximo se submete ao processo cármico de seu próprio
resgaste espiritual. A caridade não é resultado de um programa aprovado em
discussões onde primeiramente se julga do merecimento do necessitado ou do
melhor aproveitamento espiritual dos seus próprios idealizadores. Na verdade, é
fruto de sentimento tão espontâneo quanto o da flor oferecendo o seu perfume
sem qualquer interesse oculto. Quando Jesus afirmou que “só pelo amor será
salvo o homem”, ele extinguiu definitivamente qualquer dúvida quanto à nossa
verdadeira atitude.
A sua
recomendação dispensa comentários e elimina indecisões, pois revela o segredo
de o homem alcançar mais rápido a sua própria felicidade. O Mestre não fez
exceções nem destacou privilégios, mas recomendou-nos um amor incondicional,
desinteressado e puro! Eis porque os espíritos desencarnados, que realmente
confiam nos ensinamentos do Cristo, curvam-se humildes e devotam-se ao bem
alheio sem quaisquer julgamentos prematuros ou pretensões egoístas.
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Os nossos
livros de orações e manuais de teologia espiritual têm a tendência de apresentar
Jesus o Cristo, como tendo sido o “meigo
nazareno” o “mestre bondoso”, etc. Essas expressões dão aos leitores uma ideia
errônea do caráter de Jesus.
Ser meigo,
ser bondoso, é, para muitos de nós, ser bonachão, bonzinho, conivente com todas
as fraquezas humanas; ser incapaz de rigor para defender a verdade e a justiça.
A ideia que muitos livros dão de um mestre espiritual é que ele nunca diga não
em face das molezas, indisciplinas e misérias dos outros.
Para muitos
o mestre espiritual deve ser, acima de tudo simpático, deixando tudo como está
para ver como é que fica.
Não encontramos,
porém, nenhum desses traços na pessoa de Jesus. Ele é, acima de tudo, o
defensor da verdade, da disciplina, da retidão da vida humana, quer seja agradável,
quer desagradável.
Quando três
homens queriam ser discípulos dele, o
Mestre não os abraçou entusiasticamente com maravilhosos idealistas ou
espiritualistas, mas encarou calmamente um destes entusiastas e lhe disse: “As
raposas têm cavernas, as aves têm ninhos, mas o filho do homem não tem onde
reclinar a cabeça”. E o fogoso candidato desapareceu para sempre.
Um entusiasta
declara ao Mestre que quer ser discípulo dele, contanto que o Mestre lhe
permita primeiro despedir-se da sua família. Mas o Mestre lhe replica: “Quem
lança mão ao arado, e depois olha para trás, não presta para o Reino de Deus”. E,
com esta trovejante resposta, o candidato sentimental desaparece para sempre.
Outro jovem
foi candidato por Jesus a segui-lo simplesmente: “Segue-me”. E o convidado
estava mesmo disposto a seguir o Mestre –
contanto que... E aqui vem as costumeiras condições restritivas de um
seguimento condicional: “Permite, que vá primeiro sepultar meu pai que acaba de
falecer”, e ele ouve a categórica resposta: “Deixa que os mortos enterrem os
seus mortos – tu, porém, vai e proclama o Reino de Deus”.
Um guru
bondoso e simpático, devia, naturalmente
ter atendido a um pedido tão razoável. Mas o Mestre que o Evangelho conhece se
mostra rigoroso e, aparentemente, pouco amável. Qualquer mestre humano teria
atendido a um pedido tão humano e piedoso. O Mestre Divino, porém, tem a
coragem de negar o pedido humano e defender a verdade e a disciplina.
Nenhum desses
três casos mereceria ao Mestre Jesus o título de meigo, bondoso, simpático.
De todos os
seus verdadeiros discípulos exige o Mestre, com rígido rigor: “Quem não
renunciar a tudo que tem, não pode ser meu discípulo”.
Por ocasião
da purificação do templo, não pede Jesus gentilmente aos profanadores: Por favor retirai-vos com as vossas mesas de
câmbio um pouco para a entrada do santuário – mas faz de umas cordas um chicote
e ameaça os vendedores ambulantes, derrubando sumariamente as mesas dos
cambistas, e rogando: “Não façais da casa do meu Pai uma praça de mercado, um
covil de ladrões.
Para o
Cristo, acima de tudo, a verdade, a santidade, a dignidade da vida humana. Nada
lhes interessa a ira ou os aplausos dos poderosos, nem a simpatia dos egoístas.
Quando o
Mestre com rigor, age sempre em defesa
de uma causa sagrada, e não em defesa de sua personalidade ofendida.
Quando alguém
lhe dá uma bofetada, está disposto a receber mais outra. Mas, ai de quem põe em
risco a verdade, a justiça, a sacralidade, o respeito devido aos valores eternos
da vida humana!
Em face
disto, o Mestre só conhece rigor e disciplina.
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A “SENTINELA
DA EVOLUÇÃO HUMANA” – POR LUÍZA CONY
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