sexta-feira, 17 de novembro de 2017

BELA TRISTEZA – PAVOROSA ALEGRIA


Lembrando, mais uma vez, o filósofo, educador e escritor Huberto Rohden.
Quanto mais triste o homem é internamente, pela ausência de harmonia espiritual, tanto mais necessita ele de alegrias externas, geralmente ruidosas e violentas. Esse homem não tolera a solidão, que lhe traz consciência mais nítida da sua vacuidade ou desarmonia interior, por isto, evita quanto possível estar a sos consigo; procura companhia por toda a parte, e, quando não a pode ter em forma de pessoas, canaliza para dentro da sua insuportável solidão parte dos ruídos da rua, por meio do jornal, do rádio, da televisão e da internet. Alguns vão mais longe e recorrem a entorpecentes – maconha, cocaína, morfina, etc. – para camuflarem, por algum tempo, a sensação da sua triste solidão.
Quem teme a concentração necessita de toda a espécie de distrações para poder suportar-se a si mesmo. E, como essas distrações e prazeres, pouco a pouco, calejam a sensibilidade, necessita esse homem de intensificar progressivamente, os seus estimulantes artificiais para que ainda produzam efeito sobre seus nervos cada vez mais sem energias, enfraquecidos. Por fim, nem já os mais violentos estimulantes lhe causam impressão moral, - e então esse homem chega, não raro, a tal grau de tristeza, no meio das suas “alegrias” que põe termo à sua tragédia através do suicídio. Outros acabam no hospício. É que nenhum homem pode viver sem uma  certa dose de alegria.
Enquanto o homem não descobrir a BELA TRISTEZA da vida espiritual, tem de iludir a sua fome e sede de felicidade com essas HORROROSAS ALEGRIAS da vida material.
Mas, quando o homem descobrir a BELA TRISTEZA da vida com Deus, renuncia espontaneamente a essa HORROROSAS ALEGRIAS  da vida sem Deus, ou então satura de espiritualidade todas as materialidades, transformando em oásis de vida abundante o seu velho deserto morto. E então compreende  ele que o DIVINO MESTRE quis dizer com as palavras “NÃO DOU A MINHA PAZ, ASSIM COMO O MUNDO A DÁ”. O que o mundo da não é paz real, é apenas uma trégua artificial, espécie de armistício temporário e precário entre duas guerras, ou melhor, num campo de batalha de guerra permanente.
O homem cuja felicidade nasceu  da VERDADE é calmo e sereno em todas as vicissitudes da vida, porque sabe que não precisaria mudar de direção fundamental se a morte o surpreendesse nesse instante. Perguntaram a um jovem que estava jogando bola, o que faria se soubesse que, daí a cinco minutos, tivesse de morrer; respondeu calmamente: “Continuaria a jogar”. Assim só pode falar quem tem plena clareza de que está no caminho certo, em linha reta ao seu destino, embora distante da meta final.
Ora, esse caminho não pode deixar de ser estreito  e árduo, uma espécie de tristeza como é toda a disciplina; mas no fundo dessa tristeza externa dormita uma grande alegria interior. É, todavia, uma  alegria anônima, silenciosa, imponderável, como costumam ser os grandes abismos e as grandes alturas. Aos olhos dos profanos, leva o homem espiritual uma vida tristonha e descolorida; o seu ambiente parece monótono e cor de cinza como um vasto deserto. E talvez não seja possível dar ao profano uma ideia da profunda alegria e felicidade       que o homem espiritual goza, porque esta felicidade jaz numa outra dimensão, totalmente ignorada pelo profano. O homem habituado a certo grau de espiritualidade tem uma imensa vantagem sobre o homem não-espiritual. Não necessita  de estímulos violentos para sentir alegria, porque a sua alegria não vem de fora, e sim de dentro. Basta-lhe uma florzinha à beira da estrada; basta o tanger de um sino ao longe; basta o cintilar de uma estrela através da escuridão – tudo enche de alegria, suave e pura, a alma desse homem, porque ela está afinada pelas vibrações delicadas que vêm das luminosas alturas de Deus. E as pontes da sua alegria brotam por toda parte; nem é necessário que saia de casa para encontrar motivos de alegria, porque a sua ALEGRIA É DE QUALIDADE, que não está sujeita às categorias de tempo e espaço, como as alegrias ruidosas e grosseiras dos profanos. Um único grau de ALEGRIA-QUALIDADE dá maior felicidade do que cem graus de ALEGRIA-QUANTIDADE.
Por isto, a vida do homem espiritual é uma BELA-TRISTEZA ao passo que a vida do homem profano é uma PAVOROSA – ALEGRIA. Mas o homem espiritual prefere a sua bela tristeza à pavorosa alegria do profano,  que ele compreende perfeitamente, porque também ele já passou por esse estágio infeliz – ao passo que o profano não compreende a felicidade anônima do iniciado, porque nunca passo por essa experiência.
O homem espiritual da BELA TRISTEZA é proclamado “BEM- AVENTURADO”, e tem a certeza de ser consolado. Um dia, a sua BELA  TRISTEZA de hoje, se converterá numa jubilosa alegria de amanhã. E isto pode acontecer mesmo antes de ele morrer fisicamente. Quando plenamente realizado no Cristo, pode dizer como este, em vésperas de sua morte: “Dou-vos a PAZ, deixo-vos a minha paz para que minha alegria esteja em vós e seja perfeita a vossa alegria”.

A “VARINHA MÁGICA” DE LUÍZA CONY


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