Lembrando,
mais uma vez, o filósofo, educador e escritor Huberto Rohden.
Quanto mais
triste o homem é internamente, pela ausência de harmonia espiritual, tanto mais
necessita ele de alegrias externas, geralmente ruidosas e violentas. Esse homem
não tolera a solidão, que lhe traz consciência mais nítida da sua vacuidade ou
desarmonia interior, por isto, evita quanto possível estar a sos consigo;
procura companhia por toda a parte, e, quando não a pode ter em forma de
pessoas, canaliza para dentro da sua insuportável solidão parte dos ruídos da
rua, por meio do jornal, do rádio, da televisão e da internet. Alguns vão mais
longe e recorrem a entorpecentes – maconha, cocaína, morfina, etc. – para camuflarem,
por algum tempo, a sensação da sua triste solidão.
Quem teme a
concentração necessita de toda a espécie de distrações para poder suportar-se a
si mesmo. E, como essas distrações e prazeres, pouco a pouco, calejam a
sensibilidade, necessita esse homem de intensificar progressivamente, os seus
estimulantes artificiais para que ainda produzam efeito sobre seus nervos cada
vez mais sem energias, enfraquecidos. Por fim, nem já os mais violentos
estimulantes lhe causam impressão moral, - e então esse homem chega, não raro,
a tal grau de tristeza, no meio das suas “alegrias” que põe termo à sua
tragédia através do suicídio. Outros acabam no hospício. É que nenhum homem
pode viver sem uma certa dose de
alegria.
Enquanto o
homem não descobrir a BELA TRISTEZA da vida espiritual, tem de iludir a sua
fome e sede de felicidade com essas HORROROSAS ALEGRIAS da vida material.
Mas, quando
o homem descobrir a BELA TRISTEZA da vida com Deus, renuncia espontaneamente a
essa HORROROSAS ALEGRIAS da vida sem
Deus, ou então satura de espiritualidade todas as materialidades, transformando
em oásis de vida abundante o seu velho deserto morto. E então compreende ele que o DIVINO MESTRE quis dizer com as
palavras “NÃO DOU A MINHA PAZ, ASSIM COMO O MUNDO A DÁ”. O que o mundo da não é
paz real, é apenas uma trégua artificial, espécie de armistício temporário e
precário entre duas guerras, ou melhor, num campo de batalha de guerra
permanente.
O homem cuja
felicidade nasceu da VERDADE é calmo e
sereno em todas as vicissitudes da vida, porque sabe que não precisaria mudar
de direção fundamental se a morte o surpreendesse nesse instante. Perguntaram a
um jovem que estava jogando bola, o que faria se soubesse que, daí a cinco
minutos, tivesse de morrer; respondeu calmamente: “Continuaria a jogar”. Assim só
pode falar quem tem plena clareza de que está no caminho certo, em linha reta
ao seu destino, embora distante da meta final.
Ora, esse
caminho não pode deixar de ser estreito e árduo, uma espécie de tristeza como é toda a
disciplina; mas no fundo dessa tristeza externa dormita uma grande alegria
interior. É, todavia, uma alegria anônima,
silenciosa, imponderável, como costumam ser os grandes abismos e as grandes
alturas. Aos olhos dos profanos, leva o homem espiritual uma vida tristonha e
descolorida; o seu ambiente parece monótono e cor de cinza como um vasto
deserto. E talvez não seja possível dar ao profano uma ideia da profunda
alegria e felicidade que o homem
espiritual goza, porque esta felicidade jaz numa outra dimensão, totalmente
ignorada pelo profano. O homem habituado a certo grau de espiritualidade tem
uma imensa vantagem sobre o homem não-espiritual. Não necessita de estímulos violentos para sentir alegria,
porque a sua alegria não vem de fora, e sim de dentro. Basta-lhe uma florzinha
à beira da estrada; basta o tanger de um sino ao longe; basta o cintilar de uma
estrela através da escuridão – tudo enche de alegria, suave e pura, a alma
desse homem, porque ela está afinada pelas vibrações delicadas que vêm das
luminosas alturas de Deus. E as pontes da sua alegria brotam por toda parte;
nem é necessário que saia de casa para encontrar motivos de alegria, porque a
sua ALEGRIA É DE QUALIDADE, que não está sujeita às categorias de tempo e
espaço, como as alegrias ruidosas e grosseiras dos profanos. Um único grau de
ALEGRIA-QUALIDADE dá maior felicidade do que cem graus de ALEGRIA-QUANTIDADE.
Por isto, a
vida do homem espiritual é uma BELA-TRISTEZA ao passo que a vida do homem
profano é uma PAVOROSA – ALEGRIA. Mas o homem espiritual prefere a sua bela
tristeza à pavorosa alegria do profano,
que ele compreende perfeitamente, porque também ele já passou por esse
estágio infeliz – ao passo que o profano não compreende a felicidade anônima do
iniciado, porque nunca passo por essa experiência.
O homem
espiritual da BELA TRISTEZA é proclamado “BEM- AVENTURADO”, e tem a certeza de
ser consolado. Um dia, a sua BELA TRISTEZA de hoje, se converterá numa jubilosa
alegria de amanhã. E isto pode acontecer mesmo antes de ele morrer fisicamente.
Quando plenamente realizado no Cristo, pode dizer como este, em vésperas de sua
morte: “Dou-vos a PAZ, deixo-vos a minha paz para que minha alegria esteja em
vós e seja perfeita a vossa alegria”.
A “VARINHA
MÁGICA” DE LUÍZA CONY
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