A sensível
forma de perceber o mundo, deixa o
coração sem sossego, toda vez que a vida não acontece do jeito e no tempo que
havíamos programado.
O inevitável
movimento das horas, da dinâmica existencial que nos faz sofrer a demora das
esferas, de nossa confessável incapacidade de lidar com o entrelaçamento do passado, presente e futuro. Sim, a vida
nos mostra. É preciso sabedoria para que não sejamos estrangulados pelo peso
desse encontro. É compreensível.
São três
tempos disputando o espaço de um coração. O passado, com sua facilidade de nos
atribuir a responsabilidade de culpas, tornando nossa vida um eterno tribunal,
cujo julgamento nunca poderá nos conceder uma sentença satisfatória.
O presente,
com suas pressões que nos cegam, com urgências que nos privam de saborear as
escolhas. E o futuro, esse senhor misterioso tecido de névoas, esperanças e
incertezas.
O ser humano
nunca foge a esse conflito. É no trevo desse encontro que nos descobrimos
cronológicos. O relógio nos comanda. A estrutura de nossa vida passa por
agendas repletas de compromissos. Eles cumprem o ofício de nos dar a breve
sensação de utilidade. Quanto mais cheia, melhor. Grifamos os dias no
calendário, e nos grifos nos equivocamos. Reservamos horas preciosas às
futilidades. Maquiamos o frívolo, damos a ele uma falsa essencialidade. Posicionamos
na convergência os três tempos – passado, presente, futuro, - sofremos as
consequências de não sabermos as consequências de não sabermos articula-los com
sabedoria. Presenteamos pelo presente, renunciamos ao dom que ele representa.. Focados
em passados e futuros, colocamos nosso empenho em terrenos ardilosos, gastamos
nosso sangue com questões que só o distanciamento nos mostrará que eram
inúteis. Mas nunca é tarde para reformular essa relação. Há um ponto de onde
podemos partir. A sabedoria bíblica nos ensina que “para tudo há um tempo, para
cada coisa há um momento debaixo do céu”.
Viver sabiamente
talvez seja isso.
Alcançar a
serenidade que nos permite sorver bem um dia de cada vez. O preceito é
sugestivo. Nele está latente a articulação harmoniosa da cronologia. Passado e
futuro se prestando a banhar o presente com a luz do discernimento.
As vozes
humanas quebram os grilhões das horas, a prece desfaz o condicionamento que
aprisiona o Universo. Não é noite nem dia. É eterno.
É a partir
dessa mística que descobrimos o tempo que não é tempo – o Kairós - como os gregos chamavam – o tempo certo. O momento
que quebra o determinismo dos outros momentos, a luz que desfaz o monocromático
da rotina e banha com novo sentido novas cores a cronologia que nos envolve. E então
compreendemos a espera como preparo do “momento oportuno”. A oração nos ajuda a
compreender os limites humanos.
O estado
psicológico se mistura à nossa vida, assim como a gota de água, símbolo de tudo
o que é humano, se mistura a tudo o que é da alma – símbolo de tudo o que é
Divino. Muita coisa está em jogo, mas estamos inteiros. Deus e nós. Distintos,
mas unidos.
E após esta
experiência tão íntima, pura e verdadeira, sentimos o Cristo dentro de nós. E escondido,
revela-se. É o processo da transformação. Na cronologia que nos cerca, Ele
semeia – o SEU tempo de graças.
Envolvidos por
SUA ação generosa, avançamos na SUA direção. A mentalidade antiga e tão marcada
por posicionamentos mesquinhos vai dando espaço a uma aperfeiçoada forma de
olhar para o mundo. E então seremos modificados na mais simples percepções. Compreendemos
que Deus diz sim mesmo quando nos nega o que pedimos. Que nos livra de
sofrimentos maiores quando nos frustra.
***
A “SENTINELA
DA EVOLUÇÃO HUMANA” – POR LUÍZA CONY
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